Storey. Keith Dixon

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Название Storey
Автор произведения Keith Dixon
Жанр Триллеры
Серия
Издательство Триллеры
Год выпуска 0
isbn 9788873041719



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recostou-se na cadeira, a sorrir, olhando para os colegas, como que a dizer, Eu disse-lhes que era duro.

      “Storey. Pois, eu bem disse que o conhecia, não disse? Você estava na equipa de râguebi, asa, ou qualquer coisa assim, sempre a fazer ensaios. Não é que alguma vez tivéssemos ganho alguma coisa. Aquilo era uma porcaria. Demoliram-na há dez anos, sabia? Construíram uma nova, uma dessas Academias.

      “Então como é que a vida o tratou depois disso?”

      “Merda, você não está interessado em mim. Está apenas a tentar descobrir o que se passa aqui.”

      “É sempre bom reencontrar velhos amigos.”

      Cliff sorriu e olhou para os seus homens, apontando um polegar a Paul.

      “Veem? É o que eu digo. Fixe, não é? Eu tinha razão, não tinha?”

      “Razão em relação a quê?” – perguntou Paul.

      Cliff inclinou-se para a frente, por cima da mesa. “Eu disse a estes falhados que você era alguém em quem podia confiar. Vi isso no café, anteriormente. Você não se encolheu. Se eu não me tivesse vindo embora, teria tentado pôr-me na rua. Você é tanto dos seguros como eu – e eu não trabalho nos seguros.”

      “A sério?”

      Cliff ignorou a observação. “Que fez quando saiu da escola? Não o tenho visto cá na terra; em que é que se meteu?”

      Paul hesitou, tomando consciência do espaço que o rodeava, dos outros clientes, da música que saía dos altifalantes doutra sala. Percebeu que estivera a falar alto para ser ouvido. Voltou a perguntar a si mesmo o que estava ali a fazer – precisava tanto de contactar com pessoas que necessitasse de conversar com Cliff e seus malandros de trazer por casa?

      Reparou que Araminta já acabara de fazer o que estava a fazer no telefone e o olhava por cima dum copo de vinho tinto. Qual era o papel dela naquilo? Quando, mais cedo, lhe pedira que viesse tomar um copo com ela, teria planeado convidar também Cliff? Ou era uma coincidência ele também estar ali?

      De repente, sentiu-se cansado, tolo e fora de forma para lidar com Cliff e as suas jogadas. Talvez fosse melhor ser frontal e deixar correr o marfim.

      Pensando melhor, talvez não.

      “Fui para o estrangeiro, andei por aí” – disse ele. “Fui ver o mundo. Voltei para Londres à procura de emprego. Entrei para os seguros.”

      “Então, porque é que voltou para aqui?”

      “Razões pessoais.”

      Cliff sorriu. “A mulher pô-lo na rua?”

      “Não sou casado.”

      “Então… questões familiares. Morreu a mamã ou o papá.”

      Paul não disse nada.

      “Acertei numa, não foi? Voltou para enterrar alguém” – disse Cliff.

      Paul limpou a garganta.

      “Estou a ver que, como estamos a discutir velhos tempos, ainda não respondeu à minha pergunta. Como é que tem sido a sua brilhante carreira?”

      Cliff abriu as mãos e encolheu os ombros. “Tenho um problemazinho com a autoridade, eu. Parece que não consigo segurar um emprego. Portanto, faço um pouco disto e um pouco daquilo. Eu e estes rapazes aqui. Os cientistas, como gosto de lhes chamar.”

      “Vai-te lixar, Cliff”– disse Gary.

      Paul percebeu que aquelas foram as primeiras palavras que qualquer dos outros proferiu.

      Cliff prosseguiu: “E para o caso de estar a interrogar-se, não sou nenhum menino do coro. Choquei-o? Não, estive durante algum tempo às ordens de Sua Majestade. Digo isto num espírito de abertura e honestidade. Não queria que pensasse que estou a falar consigo sob qualquer tipo de dissimulação.”

      “Mas a sua experiência não o pôs nos carris.”

      Cliff voltou a sorrir.

      “Não reconheceria os carris mesmo que caísse em cima deles e partisse o nariz.”

      “Todos fazemos o que podemos para conseguir que o dinheiro chegue ao fim do mês.”

      “É exatamente o que eu acho” – disse Cliff. Dirigiu outro olhar avaliador a Paul. “Então, voltou cá para um funeral. Calculo que os seus pais já tenham partido, os dois, pois se tivesse sido só um estaria em casa a amparar o outro. E não por aí, com gente como nós. Portanto, provavelmente tem vontade de arrumar as coisas, vender a casa e livrar-se de roupas e de todas essas porcarias…Tive de fazer tudo isso há anos. A minha mãe e o meu pai fumavam tanto que foram prematuramente para a cova. Procuraram o que tiveram, também. Cinquenta por dia, cada um deles. Quase lhes dei uma pá e lhes disse que começassem a cavar.”

      Paul recostou-se na cadeira e olhou para Araminta. Estava outra vez a escrever no telemóvel.

      “Tudo isto é fascinante, mas não faço ideia do que estou aqui a fazer” – disse.

      Cliff encolheu os ombros. “Eu sei, pensava que vinha tomar um copo para namorar com a Minty e em vez disso dá com quatro patifes. É como aquele programa de televisão, como é que se chamava?” – olhando para os seus homens, à procura de ajuda e a receber olhares vazios – “Dragons Den. Tem de nos vender uma coisa e nós não queremos comprar.”

      “Não estou a vender nada.”

      “Oh! Acho que está. Olhe, estou interessado em si por causa da diferença entre o que diz que é e o modo como se comporta. Disse à Minty que trabalha em seguros. Mas atirou-se a mim como um polícia. Seguro de si. Mostrando os músculos. Pus-me a pensar – que intenções tem você com esta pobre rapariga? Qual é a sua jogada, hem? Qual é a sua jogada?”

      Araminta estava agora de pé, a guardar o telefone e a alisar a frente do vestido. Paul reparou de novo em como era magra à volta das ancas, o que lhe tornava o estômago muito plano.

      Cliff levantou o olhar para ela e disse: “O David está bem?”

      Tirou uma mala creme do seu lugar nas costas da cadeira, dizendo: “Um bocado chateado comigo. Não o vejo há uns tempos.”

      “Mantém-no a querer mais, querida. Os homens são todos iguais.” E, virando-se para Paul: “Não somos? Dão-nos um pouco e nós queremos mais. Estávamos a falar do namorado da Minty, caso estivesse curioso. Vê? Você não é o único galo na capoeira.”

      Paul pôs-se em pé, empurrando a cadeira para trás e dizendo a Araminta: “Preciso de ir à casa de banho. Acompanho-a à porta.”

      “Boa tentativa, mas não é preciso; vemo-nos por aí.”

      Passou por ele sem olhar e ele sentiu brevemente o odor do seu perfume. Virou-se e seguiu-a, abrindo caminho por entre mesas onde homens com as suas mulheres e namoradas paravam para olhar para ela, olhando a seguir para ele.

      Agarrou-lhe no braço, dizendo: “Minty.”

      Ela virou-se, uma escuridão nos seus olhos. “Não me toque, porra.”

      Largou-a. “Que se passa? Porque é que está no mesmo código postal que aquele bando de falhados?”

      “Não tem nada a ver com isso.” Suavizou um pouco o olhar. “Lamento que estivessem cá quando apareceu.”

      “Que quer ele? Porque é que anda à sua volta?”

      Olhou-o fixamente. “Provavelmente pela mesma razão que você.”

      Depois, virou-se e foi-se embora. Paul viu-a sair para o ar frio, abanou a cabeça e dirigiu-se às casas de banho. A pensar que entrara num filme cuja intriga não entendia e em que as personagens não faziam sentido.

      Mais tarde, percebeu que era naquela altura que devia ter continuado a andar, afastando-se do bar o mais rapidamente