Storey. Keith Dixon

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Название Storey
Автор произведения Keith Dixon
Жанр Триллеры
Серия
Издательство Триллеры
Год выпуска 0
isbn 9788873041719



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sem ver por onde ia. Não foi por isso que telefonei.”

      “Porque é que telefonaste?”

      Ela soltou um suspiro irritante e Paul imaginou-a recostada no seu sofá, no apartamento que alugou ao lado do dele, em Battersea. Estaria de maillot e camisola pretos para treinar as rotinas de dança à frente da televisão, na prateleira por cima da qual se alinhavam os seus troféus reluzentes. Dançava aos fins de semana, com um tipo de Fulham, danças de salão e ensaiava o melhor que podia os seus passos.

      Storey era, para ela, um projeto. Houve uma altura em que podiam ter tido alguma coisa, mas ele escolheu mal a oportunidade e deixaram de se falar durante três meses. Depois, reataram, mas numa base diferente. Ele apreciou o facto de ela ainda querer falar com ele, apesar de se ter vindo embora com apenas dois dias de pré-aviso, descarregando em cima dela a responsabilidade de vender a mobília antes que o senhorio a desse. Era hábil – havia de tratar do assunto.

      “Ontem à noite apareceu um tipo para falar contigo” – disse ela. “Ouvi-o bater à tua porta e fui lá fora. Disse que trabalhava contigo e queria conversar.”

      “Como era ele?”

      “Um pouco mais alto do que tu, cabelo cortado à escovinha, lábios grandes, muito vermelho, como se usasse batom ou qualquer coisa parecida.”

      “O Rick. Imaginei que ele pudesse aparecer.”

      “Obrigado por me teres avisado.”

      “Que lhe disseste?”

      “Olha, é aqui que esta conversa se torna interessante, sabes? A maioria das vezes sou uma rapariga muito calma, mas, na realidade, neste caso portaste-te mal comigo, Storey. Não preciso de toda a tua história despejada na soleira da minha porta. Tenho a minha própria vida, sabes? Está bem que tenhas tido que ir tratar do funeral, e isso tudo, mas não tinhas de te ir embora, pura e simplesmente. Não quero saber da tua tensão, nem quero saber do teu trabalho. Não quero saber das tuas estantes. Não tens o direito de despejar isso tudo em cima de mim e depois pirares-te para as Midlands.”

      “De acordo. Fiz mal. Então, que disseste ao Rick?”

      Agora, imaginava-a a olhar para o teto, tentando lembrar-se do que o seu conselheiro lhe dissera acerca de se deixar controlar pela ira. Devia estar a contar até dez. Ou a imaginar anjos. Não imaginava o que ela faria para se recompor. “Disse-lhe que te tinhas ido embora” – respondeu. “Não disse para onde nem porquê. Fingi que não sabia. Não era isso que querias?”

      “Não mencionaste o meu pai? Nem Coventry?”

      “Segui as tuas instruções.” Já mais calma, um pouco aborrecida, num tom que ele reconhecia bem. “Que é que esse Rick quereria, afinal? Pensava que te tinhas demitido.”

      “E demiti. Provavelmente, pensa que consegue fazer-me voltar atrás. Arma-se sempre um pouco em psicólogo. Achava que me conhecia melhor do que eu mesmo.”

      “Merda, Storey, tu não te conheces. Andas a caminhar no escuro.”

      “Inclino-me perante o teu superior conhecimento.”

      “Olha para a tua história recente. Isso dir-te-á tudo o que precisas de saber.”

      “Tenho de ir. O meu micro-ondas acaba de apitar.”

      “Sim, está bem, não deixes arrefecer o hambúrguer.”

      “É um empadão de carne.”

      “Então, voltaste às origens. Receio por ti, receio mesmo.”

      “Telefono-te quando estiver mais estabilizado.”

      “Como se isso fosse acontecer” – disse ela, desligando.

      CAPÍTULO TRÊS

      Janice viu-o através da janela, antes de entrar. Que lata – apoderar-se do seu lugar favorito, descontraído como se lhe pertencesse. Supunha que era um homem atraente, moreno, como Pierce Brosnan se tivesse pais gregos, com aquele tipo de queixo com barba escura por fazer e cabelo preto forte. A roupa parecia também se ajustar a ele, mostrando o peito amplo e as ancas estreitas, mas de um homem que se mantinha em forma e não dum rapaz a crescer. Não tinha feições mal definidas, era vigoroso e penetrante, e os seus olhos pareciam atravessar-nos.

      Podia ser interessante. Seria bom conhecer, por uma vez, um homem que pudesse assumir o controlo. Viu isso nele, aquele impulso de dominar, de ter as coisas à sua maneira. Podia ter gostado do desafio se não tivesse outros planos.

      Portanto, ali estava ele, agora a tirar os olhos do livro, a olhá-la e a sorrir ao mesmo tempo, sabendo que ela ia franquear a porta, e apenas à espera que ela chegasse. O sorriso não lhe chega aos olhos, pensou ela, era uma coisa que ele fazia com a boca, um gesto social, reconhecendo que o jogo ia começar.

      Dizia ele: “Pensava que nunca voltaria, com a minha rudeza, e tudo. Pensava que tinha quebrado o encanto.”

      Ela olhou-lhe para a camisa de colarinho aberto, revelando um pelo encaracolado a sair por cima, para o casaco azul marinho que provavelmente veio da Next através duma loja de beneficência, para o livro agora virado para baixo, em cima da mesa – As Vinhas da Ira –, e pensou no modo como ele ganhava a vida: perito de seguros. Não acreditava. Agia como se tivesse uma missão, algo que fosse fazer da sua vida, algures onde fosse estar. Não era um burocrata ou alguém que olhasse para números e fizesse cálculos. Havia demasiada atividade por trás dos seus olhos. Algo assustador, mas intrigante.

      “Peça-me um café” – disse ela.

      Olhou-a por um momento, mas depois suspirou e levantou-se, dirigiu-se ao balcão, acenando alegremente para ela quando entrou na fila. Nem sequer perguntara o que ela queria. Provavelmente já sabia, do tempo que passara a observá-la.

      Não faças o jogo dele – dizia para consigo. Não fiques intrigada.

      Sentou-se e tirou o computador Microsoft Surface Pro 3, abriu o teclado aveludado e passou o dedo pelo ecrã para abrir o documento atual. Pôs o telemóvel Moto G Android em cima da mesa, ao lado dele. Gostava dos seus gadgets e sabia o nome e as especificações de todos eles. E, por alguma razão, queria convencer Storey de que era genuína, de que realmente era jornalista, de que o seu trabalho era, dalgum modo, importante. Normalmente, quando entrava no Starbucks, estava a escrever o seu diário ou, de vez em quando, a trabalhar numa das suas lendas. É assim que os espiões lhes chamam – às identidades falsas que criaram para si mesmos. Nesse momento tinha umas dez em curso e todos os dias tentava acrescentar mais um pormenor, mais uma caraterística ou um facto da vida a pelo menos duas das identidades. À medida que avançava, caraterizava-se.

      O que lhe dava algo que fazer enquanto esperava que David voltasse.

      Storey regressou com o café dela e outro para si mesmo.

      “Há dois dias que não vem cá” – disse ela.

      “Teve saudades de mim?”

      “Não posso ter saudades de alguém que não conheço.”

      “Tenho um pedido de desculpa a apresentar.”

      Estava a deitar açúcar no café e parou.

      “Não andava a persegui-la” – disse ele. “Não quero que pense isso. Estava aqui por acaso quando entrou. Achei que parecia interessante. Sabe o que quero dizer? Vê-se uma pessoa e acha-se que se gostaria de a conhecer, de descobrir como fala e o que tem para dizer.”

      Sentou-se e observou-a, como se achasse que lhe tinha dado um presente.

      Janice deteve-se por um instante e, depois, disse: “Importa-se que trabalhe? Por mais que adorasse conversar.”

      Gostou da maneira como ele sorriu e como, a seguir, abanou a cabeça de modo que mostrava admiração, como se a competição em que estivessem empenhados tivesse passado para um nível diferente e ele soubesse que teria de melhorar o seu