Storey. Keith Dixon

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Название Storey
Автор произведения Keith Dixon
Жанр Триллеры
Серия
Издательство Триллеры
Год выпуска 0
isbn 9788873041719



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mas olhou por um momento para a página em branco e depois apagou-o, escrevendo o seu nome verdadeiro e função, só para fazer alguma coisa. Araminta Smith, jornalista. Dera com o nome numa peça que tinham feito na escola e sempre gostara dele. Parecia ter classe, o papel de Arianta.

      Storey ignorou o abandono dela, pegando no livro e continuando a ler.

      Irritada, contra sua vontade, disse: “É bom, o Steinbeck?”

      Ele baixou o livro.

      “Ganhou o Prémio Nobel com o seu pior romance. Imagine como devia ser bom. Viu As Vinhas da Ira, o filme?”

      “Talvez.”

      “Duro como pedras para um filme de Hollywood, mas coberto de açúcar em comparação com o livro.”

      Ela anuiu com um aceno de cabeça e voltou a olhar para o ecrã. Não sabia nada de literatura e começava a entrar em pânico quando as pessoas falavam de livros, não fossem fazer-lhe uma pergunta a que não soubesse responder. Nunca conseguia ler mais do que um artigo de jornal antes de adormecer. Um dia, começaria a concentrar-se nesse defeito e a corrigi-lo. Um curso curto em linha talvez bastasse.

      Aproveitou a oportunidade que ela criara. “Então, está a trabalhar num artigo, não é? Ou é algo mais mundano – nascimentos, óbitos e casamentos?”

      “Você não compreenderia” – disse.

      … e depois perguntou a si mesma por que razão teria dito tal coisa. Por vezes, até ela se espantava com a sua maldade. Ele parecia ser razoavelmente inteligente; então, porque estava a tentar antagonizá-lo?

      Inclinou o ecrã em direção a ela. “Não lhe posso dizer grande coisa acerca dele porque ainda estou a desenvolvê-lo. Estou apenas a investigar, a falar com pessoas.”

      “Dê-me uma ideia, para não ficar magoado.”

      Hesitou e, depois, disse: “É sobre corrupção no governo local. Não posso dizer mais nada.”

      “Há muita em Coventry?”

      “Ainda não sei. É por isso que estou a investigar.”

      “Conhece pessoas com quem possa falar, pessoas que possam dar com a língua nos dentes? É isso que faz?”

      Ela achou que a sua curiosidade era genuína, mas que não era bom deixá-lo avançar muito. Ainda não sabia nada acerca dele ou do que queria. Era bom que achasse interessante falar com ela, mas tinha demasiado que fazer e muitas coisas a que atender.

      “Como disse, não posso falar disto. Mesmo que pudesse, não lhe dizia nada. Não faço ideia de quem você é” – disse. Fez uma pausa e acrescentou: “Que queria dizer com isso de viver um dia de cada vez?”

      Ele encolheu os ombros. “Não leve a sério. Eu sou um brincalhão. Digo muita coisa que não sinto.”

      “Não acredito. Acho que você fala muito a sério.” Já a ficar zangada por ele não a levar a sério, disse: “Bem, isso chateou-me. Portanto, pode deixar-me em paz?”

      “Eu já cá estava.” Sem dar o braço a torcer.

      “Preciso da mesa para trabalhar. Além disso, você já quase terminou o seu café.”

      A expressão dele mostrava desânimo e empurrou a cadeira para trás, levantando-se. Finalmente, tinha-o tocado.

      “Andarei por aí” – disse ele.

      “Não perca tempo por minha causa.”

      “Matar o tempo. Deixar-me estar. Ficar onde não sou desejado.”

      “Ah, sim, você é escritor. Estou a perceber.”

      Pegou na sua chávena de café, olhou em redor da sala movimentada e encaminhou-se para um banco vazio no canto oposto, perto das casas de banho. Ela reparou outra vez nos seus ombros largos e nas suas ancas estreitas, uma boa silhueta. Talvez lhe pegasse noutra altura, quando estivesse menos ocupada.

      Ou talvez não.

      Paul perguntava a si mesmo o que estava a fazer com aquela mulher. Ela fizera-lhe uma pergunta simples há uns dias e ele despejara o que pensava: que podia fazer, como podia recuperar a situação? Ainda não estava num estado de espírito propício para sair com alguém, mas já não conseguia deixar de pensar nela. Ali sentada a depenicar no teclado, a olhar pela janela, recusando-se a olhar na sua direção, de pernas cruzadas sobre os tornozelos por baixo da mesa.

      Reparou noutros homens que também olhavam para ela – principalmente rapazes estudantes que tinham colonizado o local, sentados, envolvidos nas suas canadianas, de olhar fixo nos seus telefones ou a falar com outros vestidos exatamente como eles, exceto quanto aos lenços, que eram de cores variadas. Ela era diferente. Criava uma espécie de aura à sua volta, uma autossuficiência que parte dele queria abalar.

      Era interessante… e era falsa.

      Não conseguia explicar como sabia, mas compreendeu que ela estava a fingir ser alguém que não era. Olhava para as pessoas de modo oblíquo, como se não pudesse correr o risco dum olhar direto, como se isso dissesse demasiado acerca dela. Quando falava, atacava-nos, mantendo-nos à distância, cortando qualquer hipótese de amizade.

      Mas então ele tinha estado a fixá-la com os olhos. Talvez ela estivesse verdadeiramente assustada com ele, com o que pudesse fazer.

      Imaginemos que sim, pensou ele. Que faria eu para assustar as pessoas, a não ser estoirar-lhes os miolos?

      Agora, um homem encaminhava-se para ela. Entrara pela porta de vidro e vira-a imediatamente. Não era grande, portava-se como quem sabia o que queria. Tinha barba cerrada, na sua maior parte ruiva, embora o cabelo fosse preto e se estendesse por cima das orelhas. Vestia um casaco preto de cabedal com corte de casaco desportivo e botões à frente, e calças de ganga azuis desbotadas. Havia nele uma solidez que lhe preenchia o casaco e um ritmo na maneira de andar que fez Paul pensar que trabalhava no exterior. Enquanto se encaminhava para a mesa da mulher, olhou em redor, cruzou brevemente o olhar com o de Paul e seguiu. Paul achou que tinha a tensão comprimida de alguém com receio de ser atacado, talvez imprevisível, de alguém preocupado com o seu estatuto.

      Gostava de pensar que tinha jeito para analisar as pessoas e o seu comportamento. Mas então, pensou, quem não tem?

      Quando o homem chegou à sua frente, ela deixou de escrever e levantou o olhar, recostando-se, parecendo descontraída, embora não sorrisse. Era alguém que conhecia, mas não queria ver.

      Disse qualquer coisa e o Casaco de Cabedal inclinou-se sobre a mesa, apoiando os nós dos dedos de ambos os lados do computador. Ela estendeu um braço e fechou-o. Ele disse qualquer coisa em resposta a esse gesto e Paul viu as palavras atingirem-na – endireitou-se na cadeira e os tornozelos descruzaram-se debaixo da mesa.

      Agora o homem apontava-lhe um dedo espetado e o ronco baixo da sua voz – que Paul ouvira, mas não entendera – tornava-se mais silencioso. A mulher desviou o olhar e o Casaco de Cabedal estendeu o braço para lhe tocar com o dedo na ponta do nariz, carregando. Ela recuou e disse qualquer coisa brusca.

      Paul deixou o seu banco e dirigiu-se para eles, aproximando-se do homem de lado. Sentiu o cheiro a cabedal do casaco dele e bem assim o de um desodorizante forte. A mulher olhou para ele e franziu o sobrolho, que foi o sinal para que o Casaco de Cabedal olhasse para ele.

      “Para que porra está você a olhar?”

      “Eu sou maior do que você. Não arranje discussão.”

      Agora o homem estava a virar-se, posicionando o corpo para o enfrentar. Paul viu que tinha uns olhos ferozes, pretos e vazios, lá bem no fundo. Provavelmente era da mesma idade que Paul, mas as rugas do rosto faziam-no parecer dez anos mais velho.

      “Vá sentar-se num canto e fazemos de conta que nunca o vi” – disse o Casaco de Cabedal.

      “Está a incomodar a senhora e eu quero