Название | As Lendas Da Deusa Mãe |
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Автор произведения | Pedro Ceinos Arcones |
Жанр | Социология |
Серия | |
Издательство | Социология |
Год выпуска | 0 |
isbn | 9788835413738 |
Para a conveniência do leitor, dividimos os mitos desse livro em quatro seções:
- A deusa criadora, com os mitos em que a criação é protagonizada por uma deusa. Tanto a criação do mundo, como a da humanidade. Deixamos de fora, e são muitos, aqueles em que uma divindade masculina e outra feminina criam o mundo simultaneamente, geralmente com a deusa realizando um papel principal. Em muitos desses mitos, de fato, a origem das montanhas é atribuída ao fato de que, tendo sido encarregada a criação do céu pela divindade masculina e a terra pela feminina, a escassa diligência com que deus realiza seu trabalho faz com que a terra seja maior que o céu, que não pode cobri-la por completo, obrigando a deusa a franzi-la para diminuir a sua superfície e ser devidamente coberta pelo céu.
- A deusa civilizadora. Inclui mitos em que vemos como as divindades ou personagens femininos ensinam a humanidade a viver nesse mundo.
- Em tempos matriarcais. Aqui incluímos contos que nos falam do tempo em que as mulheres comandavam a sociedade.
- O fim das Amazonas é onde reunimos as histórias que nos contam como as mulheres perderam o poder na sociedade, que passou a ser dominada pelo homem.
6. Relevância desse trabalho no contexto atual
Vivemos em uma sociedade que exige dos seus integrantes fé de que o modelo que ela propõe é o melhor que se pode ter e o melhor que já se teve ao longo da história. Curiosamente, esse modelo não foi aceito de comum acordo pelos membros da sociedade, mas foi imposto de cima para baixo por suas elites intelectuais, e está sendo moldado a cada dia para se adaptar às necessidades financeiras das corporações que são movidas exclusivamente pelo lucro.
Uma sociedade estruturada em torno do lucro e da busca pelo benefício econômico imediato, acaba afastando as pessoas dos seus atributos, tornando-as unicamente consumidores. O homo consumidor já não é um homo religioso (no sentido amplo, preocupado com os mistérios da vida após a morte), nem um homo social (cuja realidade cotidiana baseia-se na relação com outros seres humanos). Diante da solidão da existência, uma pessoa já não pode mais recorrer a um deus ou ao seu irmão, mas a algum dispositivo concebido por uma corporação.
O homo consumidor, considerando o mundo como um objeto de consumo, chega à aberração de considerar a natureza e os próprios seres humanos da mesma forma.
A violência contínua contra as mulheres que não se expressa apenas no seu lado mais sangrento diariamente, é sem dúvida o resultado dessa sociedade. Essas graves consequências, que bastariam para questionar os fundamentos sobre os quais baseia-se a sociedade, são, de fato, considerados apenas desvios quase previsíveis e esperados. Talvez recuperar essa figura arquétipa da mãe, da deusa mãe, essa deusa criadora tão ligada a natureza, sirva para frear a violência extrema que essa sociedade aplica nas suas relações com a mãe, em seu aspecto de mulher e de natureza.
- Breve resumo sobre os povos mencionados nessa antologia.
Novamente agrupamos os povos da China em oito grandes grupos etno-linguísticos.
1. De idiomas sínicos.
Chineses ou Han
São em torno de 1.200 milhões de pessoas que vivem por toda a China, especialmente no centro e no leste do país. Nas regiões periféricas, especialmente no oeste da China atual, vivem misturados com outros povos, alguns dos quais são mencionados a seguir. É possível que tenham sido sociedades matriarcais antigamente. Há fatos que sugerem um papel mais elevado da mulher em tempos passados, como o caráter de “sobrenome” que se traduziria literalmente como “nascida mulher”. Ao longo da história chinesa o papel da mulher foi-se degradando, como acontece com os povos que estão sob sua influência cultural. Sobre eles traduzimos A criação da humanidade por Nuwa e algumas histórias locais que documentam o fim da dominação feminina.
2. De idiomas tibeto birmaneses
Neles é contínua a presença da mulher com papel relevante; o fim do poder feminino poderia ser traçado estudando a história de seus povos. Os reinos das mulheres que mencionam os escritos chineses clássicos, possivelmente foram de idioma tibeto birmanês.
Yi
Mais de sete milhões de pessoas que vivem no sul das montanhas de Sichuan e em toda a província de Yunnan. Diversos testemunhos históricos falam da existência de chefes mulheres entre eles. Têm uma escritura própria na qual se conserva uma rica literatura de caráter sagrado utilizada por seus xamãs ou pimos em diferentes cerimônias de culto à natureza. Em vários dos seus mitos de origem, a criação do mundo e da humanidade é obra de uma divindade feminina, como em Ahexinimo ou na Mãe Ancestral Xini, dos Yi de Yunnan. Sobre eles traduzimos alguns fragmentos que emprestam as contribuições femininas à civilização e duas histórias interessantes sobre o fim do poder feminino: Cuoriapu conquista o Reino das Mulheres y Shilaete tem um pai.
Nu
São em torno de 12.000 pessoas que vivem isoladas nas margens remotas do rio Salween (Nujiang na China). A Deusa da Caça, cuja história apresentamos aqui, é uma das suas divindades mais importantes.
Pumi
São em torno de 35.000 pessoas. Vivem espalhados nas montanhas no noroeste de Yunnan e no sudeste de Sichuan. Adoram à deusa Bajingjimu, em torno da qual eles construiram sua religião Dingba. Eles também acreditam no lamaísmo tibetano. Sobre eles traduzimos A origem dos povos, e A lenda da deusa Tana.
Hani
São alguns dos milhões de pessoas que vivem na província de Yunnan e em outros países do Sudeste Asiático. As genealogias dos Hani foram contadas por linhagem feminina até cerca de 30 gerações atrás. Seu festival mais importante, Amadu, agora proibido às mulheres, era dedicado antigamente à uma divindade feminina. Além do mais, conta com várias histórias em que a criação da humanidade é realizada por uma divindade feminina, como em A mãe Taporang ou em A deusa Ema, que apresentamos aqui.
Jino
São somente 20.000 pessoas que vivem em uma dezena de aldeias no extremo sudeste da China, na Prefeitura de Xishuangbanna. Há inúmeras provas da existência de uma sociedade matriarcal entre os Jino até poucas gerações atrás, como seu nome, que significa “descendentes do tio” e se refere