Название | Cian |
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Автор произведения | Charley Brindley |
Жанр | Приключения: прочее |
Серия | |
Издательство | Приключения: прочее |
Год выпуска | 0 |
isbn | 9788835410249 |
Dona Lilian interrompeu mais uma vez.
–Tenho certeza que Doki ficará muito feliz em ensiná-la a tocar essa coisa, mas posso ter apenas um momento do seu tempo?
Cian, com mais controle que qualquer cortesã real, com anos de educação cultural perfurada em um cérebro que alguma vez poderia esperar possuir, afastou-se de algo de tremendo interesse para ela e atendeu ao que ela deveria ter pensado que era uma função social esperada. Ela deu toda sua atenção à idosa.
–Sua roupa é tão… – Cian olhou para mim buscando por uma palavra. Não acredito que ela já tenha visto um vestido com tantos detalhes entre cortes e cores.
– Feia – eu disse a Cian.
– Não! – Ela riu, me dando uma cotovelada – É tão maravilhosa e bonita, mas não pesa seus ombros?
Cian usava uma saia bege simples e blusa creme, sem nada por baixo, Kaitlin e eu ainda estávamos tentando convencê-la a usar roupas de baixo, mas, pelo menos, sentimos alguma conquista ao fazê-la usar uma blusa. A saia tinha um caimento que a levava entre os joelhos e os pés descalços… ou o pé descalço, devo dizer. Suas roupas eram muito mais leves e casuais do que as de dona Lilian.
–Sua perna de madeira vai até o quadril? – A mulher voltou ao assunto original.
A maioria das pessoas ignorava ou tentava ignorar o membro, conduzindo a conversa a outras coisas, mas essa mulher foi muito direta em todas as suas observações. Eu não sabia se era simplesmente uma curiosidade mórbida ou se havia algo a mais em seu interrogatório.
– Logo abaixo do meu joelho – respondeu Cian, levantando a barra da saia.
A música parou e eu olhei para Doki, que levantou os olhos das pernas de Cian para mim, depois rapidamente os colocou de volta em seu instrumento e a melodia interrompida começou de onde parou.
– Perfeito! – dona Lilian exclamou.
Pedi-lhe para repetir a palavra. Ela disse de novo sorrindo para mim e então, com a bengala, bateu com força na canela direita através das camadas de tecido. Dava para perceber facilmente pelo som oco da batida que era uma perna falsa, ela, no entanto, não levantou o vestido arrebatador para nos permitir uma olhada em seu membro artificial. Em vez disso, ela me entregou a bengala, se afastou dez passos acima do convés e voltou em nossa direção, sorrindo amplamente. Enquanto ela fazia essa curva, Doki deu uma levada de foxtrot, e a senhora Lilian deu-lhe um sinal impaciente com a mão, junto com o sorriso, enquanto caminhava em nossa direção. Vimos que ela estava se movendo com esforço, mas sem mancar nem um pouco.
A campainha do jantar tocou e Lilian atou braços com Cian. As duas caminharam em direção à cabine principal, deixando o resto de nós a segui-las, convidados para jantar ou não. E eu, ainda segurando aquela bengala ridícula e me sentindo muito como um criado, segui Rachel, Kaitlin e Hero, enquanto ouvia atrás de mim as notas alegres de Aquarela do Brasil.
Capítulo Nove
O capitão Sinawey sempre fazia questão de estar presente na refeição da noite com seus passageiros e tripulação, talvez ele visse aquilo como uma convenção, um dever a ser cumprido, porque estava claro que não apreciava de fato o momento. O capitão era um homem quieto, sempre preferindo ficar em sua cabine quando não estava na ponte. Um livro sempre o acompanhava no jantar, ele o mantinha aberto ao lado do prato durante toda a refeição. Na verdade, ele nunca lia uma só palavra, apenas usava essa pretensão de concentração estudiosa como um meio de impedir as pessoas de falarem com ele. Esse hábito de evitar conversas provavelmente explicava sua falta de habilidades sociais.
Naquela noite, a mesa do capitão estava posta com sua variedade habitual de talheres incompatíveis e xícaras lascadas, arrumada com antecedência pelos auxiliares de cozinha. Ao longo da mesa, havia saleiros e pimenteiros, condimentos, vinagre, açúcar e, naquela noite em particular, o molho especial St. Elmo de Kaitlin, a presença desse tempero picante significava que provavelmente teríamos bife no jantar.
Nosso capitão tinha sobrancelhas negras e grossas, combinando com seu bigode, igualmente preto. Seus cabelos, mais grisalhos que pretos, mantinham o formato do boné, que estava pendia em uma aresta da cadeira. Na ponte em uma tempestade, ou em qualquer lugar no convés, suas instruções suaves eram executadas como comandos, sem questionamentos, mas ali, naquela confusa cabine, com um grupo que não estava sob seu comando, ele era um náufrago social à deriva boiando em direção a um recife de rochas ígneas em torno da mesa.
Dortworthy, um comerciante de fragrâncias exóticas e peles de animais, abriu a conversa da noite.
–Ah, capitão Sinawey – disse Dortworthy, limpando o canto da boca com o guardanapo – Qual é o corte de carne que nos proporcionou hoje à noite?
Ele me deu uma piscadela tentando, suponho, atrair-me para seu joguinho com o capitão. A estatura e o rosto de Dortworthy exibiam traços animalescos brutos, exceto pelo absurdo topete e pela ridícula vassoura preta no lábio superior a que chamava bigode. Apesar de suas muitas falhas, ele falava um português perfeito.
Nosso pobre capitão ficou estatelado no meio de sua garfada e olhou para o naco de carne empalada no garfo. Eu podia ver as bordas inferiores de suas bochechas enrubescerem.
– Hmm – começou o capitão – é um… – Hesitante, seus olhos encararam o bife no prato – Deve ser de algum tipo de…
Ele pegou o guardanapo, seus olhos trepidavam em um desespero silencioso. Me parecia que ele estava prestes a perder o pequeno jantar que foi capaz de consumir antes do sociável Sr. Dortworthy abrir a boca.
Nesse momento, Doki se sentou ao seu lado.
– Contrafilé – ele sussurrou.
Olhei para o nosso hóspede recém-chegado ao jantar, no momento em que ele esfarelava alguns biscoitos em sua refeição fumegante. O homem não poderia sequer sonhar com bife no jantar devido à sua deficiência dentária, no entanto, ele provavelmente estava familiarizado com cada pedaço de carne na despensa, ao contrário do nosso capitão, que só via tudo como carne.
– Acredito que havia me informado, quando estávamos tomando nosso chá na cozinha – disse ao capitão Sinawey enquanto piscava para Dortworthy – que a carne a ser preparada para a refeição da noite era um corte de contrafilé do quarto traseiro de um fino gado argentino.
Sorrindo, o capitão pegou seu copo de chá gelado
– Precisamente, Sr. Lostasia, contrafilé da melhor carne argentina.
Dona Lilian sussurrou uma palavra afiada que eu não consegui entender do outro lado da mesa, em direção a Dortworthy.
– Ah – disse Dortworthy, ignorando o comentário de dona Lilian – pois muito bem. – Ele sorriu para a xícara, piscou os olhos furtivos e continuou – E a rebelião dos condenados na Austrália, o que acha de tudo isso, capitão?
Aparentemente, o homem ainda não estava satisfeito com seu entretenimento.
– Condenados? – o capitão começou – Bem, eu…
– Capitão Sinawey – decidi brincar um pouco com o Sr. Petulante – você já navegou pelo Pacífico Sul?
– Sim, Saxon – ele respondeu rapidamente – Muitas vezes.
– E não acha difícil navegar quando está ao sul do equador e fora de vista das Estrelas do Norte?
– Ah, não senhor. O capitão voltou para a refeição quando começou a falar – Quando tenho as sete irmãs estreladas do Cruzeiro do Sul sorrindo ao meu ombro e os ventos alísios sopram o dia inteiro ao verdadeiro sudeste, não há nenhum problema em navegar diretamente para Porto de Sydney, mesmo no escuro