Obras Completas de Luis de Camões, Tomo III. Luis de Camoes

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Название Obras Completas de Luis de Camões, Tomo III
Автор произведения Luis de Camoes
Жанр Зарубежные стихи
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Издательство Зарубежные стихи
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o dinheiro he fidalgo,

      Que o sangue todo he vermelho.

      Se elle mais alto o dissera,

      Este pelote puzera:

      Que o seu eco lhe responda;

      Que su padre era de Ronda,

      Y su madre de Antequera,

      E quer cobrir o ceo co'huma joeira.

      Fraldas largas, grave aspeito,

      Para Senador Romano.

      Oh que grandissimo engano!

      Que Momo lhe abrisse o peito!

      Consciencia, que sobeja,

      Siso, com que o mundo reja,

      Mansidão outro que si;

      Mas que lobo está em ti,

      Metido em pelle de oveja!

      E sabem-no poucos.

      Guardae-vos de huns meus Senhores,

      Que ainda comprão e vendem;

      Huns, qu'he certo, que descendem

      Da geração de pastores:

      Mostrão-se-vos bons amigos;

      Mas se vos vem em perigos,

      Escarrão-vos nas paredes;

      Que de fóra dormiredes,

      Irmão, que he tempo de figos;

      Porque de rabo de porco nunca bom virote.

      Que direis d'huns, que as entranhas

      Lh'estão ardendo em cobiça,

      E se tẽe mando, a justiça

      Fazem de teas de aranhas?

      Com suas hypocrisias,

      Que são de vossas espias:

      Para os pequenos huns Neros,

      Para os grandes tudo feros.

      Pois tu, parvo, não sabías,

      Que lá vão leis, onde querem cruzados?

      Mas tornando a huns enfadonhos,

      Cujas cousas são notorias;

      Huns, que contão mil histórias

      Mais desmanchadas que sonhos;

      Huns mais parvos que zamboas,

      Qu'estudão palavras boas,

      A que ignorancia os atiça:

      Estes paguem por justiça,

      Que tẽe morto mil pessoas,

      Por vida de quanto quero.

      Adonde tienen las mentes

      Huns secretos trovadores,

      Que fazem cartas d'amores,

      De que ficão mui contentes?

      Não querem sahir á praça;

      Trazem trova por negaça;

      E se lha gabais, qu'he boa,

      Diz qu'he de certa pessoa.

      Ora que quereis que faça,

      Senão ir-me por esse mundo?

      Ó tu, como me atarracas,

      Escudeiro de Solia,

      Com bocaes de fidalguia,

      Trazido quasi com vacas;

      Importuno a importunar,

      Morto por desenterrar

      Parentes, que cheirão ja!

      Voto a tal, que me fara

      Hum destes nunca fallar

      Mais com viva alma.

      Huns, que fallão muito, vi,

      De que quizera fugir;

      Huns que, emfim, sem se sentir,

      Andão fallando entre si;

      Porfiosos sem razão;

      E desque tomão a mão,

      Fallão sem necessidade;

      E se algum'hora he verdade,

      Deve ser na confissão;

      Porque quem não mente… Ja m'entendeis.

      Oh vós, quem quer que me lerdes,

      Qu'haveis de ser avisado,

      Que dizeis ao namorado

      Que caça vento com redes?

      Jura por vida da Dama;

      Falla comsigo na cama;

      Passêa de noite e escarra;

      Por falsete na guitarra

      Põe sempre: Viva que ama,

      Porque calça a seu proposito.

      Mas deixemos, se quizerdes,

      Por hum pouco as travessuras,

      Porqu'entre quatro maduras

      Leveis tambem cinco verdes.

      Deitemos-nos mais ao mar;

      E se algum se arrecear,

      Passe tres ou quatro trovas.

      E vós tomais côres novas?

      Mas não he para espantar;

      Que quem porcos ha menos,

      Em cada mouta lhe roncão.

      Ó vós, que sois Secretarios

      Das consciencias Reais,

      E que entre os homens estais

      Por Senhores ordinarios;

      Porque não pondes hum freio

      Ao roubar, que vai sem meio,

      Debaixo de bom governo?

      Pois hum pedaço de inferno

      Por pouco dinheiro alheio

      Se vende a Mouro e a Judeo.

      Porque a mente, affeiçoada

      Sempre á Real dignidade,

      Vos faz julgar por bondade

      A malicia desculpada.

      Move a presença Real

      Huma affeição natural,

      Que logo inclina ao Juiz

      A seu favor: e não diz

      Hum rifão muito geral,

      Que o Abbade donde canta, dahi janta?

      E vós bailais a esse som:

      Por isso, gentís pastores,

      Vos chama a vós mercadores

      Hum que só foi pastor bom.

– oOo —A JOÃO LOPES LEITÃO,SÔBRE HUMA PEÇA DE CACHA QUE MANDOU A HUMA DAMA, QUE SE LHE FAZIA DONZELLAMote

      Se vossa Dama vos dá

      Tudo quanto vós quizestes,

      Dizei-me: p'ra que lhe déstes

      O que vos ella fez ja?

Volta

      Sendo os restos envidados,

      E vós de cachas mil contos

      Sabeis com quão poucos pontos,

      Que lhos achastes quebrados;

      Se o que tẽe, isso vos dá,

      Vós mui bem lho merecestes,

      Porque se a cacha lhe déstes

      Tinha-vo-la feita ja.

– oOo —MOTE

      Menina