Malícia de Mulher. Barbara Cartland

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Название Malícia de Mulher
Автор произведения Barbara Cartland
Жанр Языкознание
Серия A Eterna Colecao de Barbara Cartland
Издательство Языкознание
Год выпуска 0
isbn 9781788673563



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      —Então acredita que para salvar a propriedade de Jeremy Rooke, o Marquês vai me pedir em casamento?— gritou Lucretia—, papai, essa é a ideia mais absurda que já ouvi em toda a minha vida.

      —Não é tão absurda assim, porque, há apenas meia hora, recebi uma carta do Marquês. Pede para nos encontrarmos para tratar de um assunto que interessa profundamente a nós dois.

      —Ele disse isso?

      —Escreveu. Já pensou, Lucretia, que é a primeira vez que ele dá sinal de saber da minha existência?— riu—, ora, eu sabia muito bem o que estava fazendo, quando tentava convencer o velho Marquês. Ele me devia muito dinheiro e, como haveria de precisar de ainda mais, o único jeito de pagar era me deixar ficar com a casa e os quinhentos acres! Para a família Rooke, isto tudo é sagrado, e devem ter ficado furiosos.

      —E você não se importou com isso?

      —Sabia que não teria nenhuma consequência. Eu estava aqui, era o dono, estava praticamente com um pé na porta! Por mais que o atual Marquês possa ter feito para me evitar, não conseguia esquecer que eu existia. Assim, quando conheci Jeremy Rooke, percebi que o destino o havia colocado em minhas mãos.

      —Imagino que ele também quis dinheiro— comentou Lucretia sarcástica.

      —Não só queria, como estava desesperadamente precisando! Mas eu não me excedi em generosidade. Um pouco aqui, um pouco ali, mas a isca principal com que eu lhe acenava era a hipótese de casar com minha única filha, que receberia um esplêndido dote ao casar e toda a minha fortuna, quando eu morresse.

      —Continue— disse Lucretia, bem devagar e muito pálida.

      —Sabia que essa ideia ia horrorizar o Marquês e a família. Como vê, Lucretia, eu estava avaliando corretamente a situação. O Marquês veio me procurar! Vou estar com ele esta tarde, e aposto o que você quiser como pedirá sua mão em casamento.

      Lucretia levantou e foi até a lareira, ficando de costas para o pai. Não disse nada. Passado um momento, ele perguntou:

      —Está zangada comigo, filha?

      —Odeio pensar que estou sendo usada. Manipulada talvez seja a palavra mais correta. Repugna-me a ideia de casar com um homem que quer o meu dinheiro, a minha casa, mas que não está nem um pouco interessado em mim.

      —E acredita que algum homem pode realmente separar você de tudo quanto possui?

      Respondeu, triste:

      —Acha mesmo, papai, que nenhum homem poderia... me amar... apenas por mim mesma?

      —Acho que muitos homens vão amá-la, minha querida. Mas tem que lembrar que, mesmo sendo rico como sou e sua mãe sendo nobre por nascimento, nós ainda não conseguimos entrar na sociedade onde a quero ver brilhar! Você ainda é muito jovem, e o passaporte da maioria das mulheres para a sociedade é, inevitavelmente, o casamento.

      —Eu... gostaria... de me apaixonar— disse Lucretia, baixinho.

      —Isso é o que todos os seres humanos querem. Mas acha que poderá amar algum dos homens que conhece? Já reparei que você recusa muitos pretendentes. Alguns deles vieram pedir minha interferência e sei que nenhum deles estava realmente preocupado com você.

      —E o Marquês? Pensa que ele cairá na armadilha que você armou?

      —Já caiu! Ou ele aceita que o primo que odeia e despreza venha morar aqui e possua parte de Merlyncourt, ou evita isso, o que só consegue casando com você.

      —Mas ele... nunca me viu.

      —E nunca tentaria ver, se eu não tomasse a iniciativa. Esperava que o acaso nos pusesse em contato com o Marquês, ou talvez com a irmã, enquanto moravam aqui. Mas, assim que o velho Marquês morreu, percebi que eles me evitavam. Consideravam uma ofensa eu ter dado o dinheiro de que o pai precisava tanto, e o fato de ter obtido a propriedade em troca disso ainda aumentou mais o meu crime.

      —Foi uma atitude muito pouco elegante da parte deles— disse Lucretia, irritada.

      —Não, não foi. Compreendo perfeitamente o ponto de vista deles. Aprendi a não esperar gratidão de ninguém, e você sabe muito bem que as pessoas não gostam dos muito ricos. Apenas os invejam ou bajulam.

      —Que cinismo, papai.

      —É a maneira mais sensata de encarar os fatos. É por isso que lhe peço, como uma moça inteligente que é, que os aceite. Pode continuar como é, sendo assediada pela plebe do condado, esperando que a qualquer momento apareça o príncipe encantado que a convença de que está apenas interessado em seu rosto bonito, e não na fortuna que possui!— a voz de Sir Joshua endureceu—, mas espero que seja bastante esperta para analisar sua situação imparcialmente e perceber que merece coisa melhor!

      —E acha que vou admirar e considerar o Marquês?

      —Estou certo disso! Primeiro, porque foi um aluno brilhante em Oxford; segundo, porque ouvi os elogios que o Comandante do seu regimento e Lorde Wellington lhe fizeram. O Príncipe de Gales, que não é nenhum bobo no que se refere a arte e cultura, tem o Marquês no maior apreço; tanto quanto a Charles James Fox. Isso é muito significativo, Lucretia! Os homens inteligentes, procuram a companhia de iguais!

      —Você está pintando um quadro muito atraente, papai— disse Lucretia, com um tom de ironia.

      —Quando vir o Marquês esta tarde, saberá que não estou exagerando.

      —Você está convencido de que vou aceitar esse plano ultrajante! E se ele não quiser casar comigo?

      —Nesse caso, não forçarei mais nada, prometo. Mas ele vai querer, sim.

      Lucretia olhou para o jardim. O sol de abril estava encoberto momentaneamente por nuvens. Parecia que ia chover, e um vento forte espalhava por todo lado flores das amendoeiras que circundavam o gramado.

      No céu cinzento apareceu subitamente uma revoada de pombas brancas que pousaram no telhado da casa. Formaram um quadro de uma beleza estranha, que Lucretia interpretou como uma mensagem simbólica.

      Lentamente como se fossem forçadas, as palavras saíram de seus lábios:

      —Muito bem papai, concordo com o que... sugeriu. Mas não estarei aqui esta tarde. Vou para Londres.

      —Para Londres?

      —Sim, papai. Quero comprar algumas roupas para ficar o melhor possível, antes de encontrar o Marquês. Você entende?

      O pai olhou para ela, um pouco intrigado.

      —Acha que é sensato, Lucretia?

      —Acho que o que vou fazer é muito sensato. Vai confiar em mim, papai, como eu... confio em você?

      Ele sorriu, com os olhos cheios de ternura.

      —Você é tudo que tenho para amar no mundo inteiro. E estou grato por confiar em mim no momento mais importante de sua vida.

      Lucretia deu um profundo suspiro.

      —Diga ao... Marquês que estou muito honrada por ele ter me escolhido. Combine o casamento para a última semana de maio e assegure-se de que ele não tente me ver antes de eu voltar.

      Sir Joshua levantou.

      —O que está pretendendo fazer, Lucretia?

      —Não deve fazer perguntas, papai! Mais tarde, conto-lhe o meu segredo. Na verdade, só você poderá ficar sabendo. Mas não tenho a menor intenção de deixar que o Marquês me veja como sou agora.

      —Por quê? O que significa tudo isso?

      Lucretia deu um beijo no rosto do pai.

      —Vai saber, quando chegar a hora. Por favor, faça o que eu disse.

      Antes que o pai pudesse dizer alguma coisa, ela saiu da biblioteca e ele ouviu sua voz pedindo que trouxessem a carruagem para a porta da frente.