Os meus três amores - Tal como sou. Rebecca Winters

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Название Os meus três amores - Tal como sou
Автор произведения Rebecca Winters
Жанр Языкознание
Серия Omnibus Bianca
Издательство Языкознание
Год выпуска 0
isbn 9788413752686



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passou o tempo a vaguear pela sala. Rachel tentou não pensar nas suas mãos grandes a tocarem nela. Ouviu que as portas do aparador se abriam e se fechavam e imaginou que encontrara o pedaço que se partira. Ela não tivera tempo de o arranjar.

      Enquanto Rachel continuava a ler, ele foi buscar a caixa de ferramentas que estava ao lado do gerador.

      Quando acabou de ler as histórias, deixou as crianças sozinhas. Elas foram ver o que Ford estava a fazer. Rachel mexeu-se para os vigiar, para que não caíssem do sofá.

      A nova posição proporcionava-lhe uma vista privilegiada do rabo de Ford.

      Ford? Desde quando é que começara a pensar no inimigo pelo seu nome? Talvez desde que lhe demonstrara que não era o inimigo ao ajudá-la na neve, ao fazer-lhe o jantar e ao deixá-la dormir.

      Era evidente que era um bom tipo.

      Ou era muito inteligente e queria confundi-la. Já para não falar do facto de ele tocar nela sempre que tinha a oportunidade e de lhe dedicar olhares ardentes. A estratégia estava a funcionar.

      Rachel recordou-se que planeara manter a distância.

      – Não é preciso fazeres isso – replicou.

      Ele sentou-se, encolheu os ombros e continuou a olhar para a chave de fendas que tinha na mão.

      – Não me importo.

      – Não precisas de fazer nada por mim – insistiu ela, num tom frio.

      – Eu gosto de me manter ocupado – comentou ele, olhando para ela por cima do ombro. – Não acho que seja um crime aceitar um pouco de ajuda de vez em quando.

      – Quando se vive sozinha, a auto-suficiência é algo importante.

      – Fazer-se amigo dos vizinhos também.

      – «Baa da ja» – balbuciou Cody, cravando os pés numa almofada e levantando-se.

      – Oh? – Rachel agarrou em Cody pelo tornozelo e fê-lo descer. – Isso nunca me ocorreu.

      – «Ja da ca» – replicou Jolie, saltando.

      Ford desafiou Rachel com o olhar.

      – Já tentaste?

      Ela ficou tensa. De certeza que as vizinhas de Ford eram jovens que lhe levavam comida e bolos de maçã.

      – Porque não me dizes quais seriam as vantagens?

      – Bom – começou ele, fixando a parte da frente da gaveta às laterais. – Ter vizinhos é como jogar em equipa. Ajudam-se uns aos outros com as tarefas, recolhem o correio dos outros ou cuidam dos seus animais quando têm de ir a algum lado.

      – Isto é Montana – replicou Rachel enquanto agarrava em Jolie, que também tentava subir pelo sofá. – A segurança não é assim tão importante. Posso contratar alguém para me ajudar com as tarefas domésticas. E não tenho animais. E não vou a lado nenhum, não preciso que ninguém fique com o meu correio. Não preciso de uma equipa. Na minha opinião, as equipas estão sobrevalorizadas.

      – Sobrevalorizadas? – repetiu ele, incrédulo, quase como se se sentisse insultado. – Estás a falar com um soldado. Para mim, a diferença entre a vida e a morte está no trabalho em equipa.

      – Isso é diferente. São militares. Têm de trabalhar juntos.

      – Somos uma equipa de elite bem treinada que vai aos lugares mais perigosos do mundo para salvar estranhos, ajudar governos e conseguir informação.

      – Estás as retorcer as minhas palavras – acusou ela, parando de lutar com os gémeos e pondo-os no chão para que brincassem. Depois, começou a andar à frente do fogo. – Respeito o que fazes. Mas eu não sou tu. Depender de outras pessoas é arriscar-me a ser magoada.

      Depois, virou-se para que Ford não percebesse que o que acabara de dizer a afectava; falara demasiado dela.

      Ouviu como ele punha a gaveta no seu lugar e guardava as ferramentas.

      – É isso que queres para os teus sobrinhos? Uma vida solitária e isolada?

      – Isto não tem nada a ver com eles. Eles têm-me a mim. Nunca estarão sozinhos.

      – Rachel… – Ford ficou ao lado do sofá.

      – Não – rejeitou-o ela com a palma da mão levantada. – Queres ajudar? Está bem. Vigia as crianças. Vou fazer o almoço.

      E fugiu para a cozinha, que não era muito longe, mas pelo menos não tinha de ver Ford. Nem continuar com aquela conversa desastrosa.

      Amaldiçoou-o por a ter obrigado a defender o seu estilo de vida.

      Tirou do frigorífico o necessário para fazer sandes e levou a alface para o lava-loiça para a lavar.

      Quem era ele para a pôr à defesa? Qual era o problema de gostar de estar sozinha? Não magoava ninguém e, assim, ninguém a magoava a ela.

      Jolie e Cody teriam amigos, é claro. Ela sabia muito bem o que era sentir-se um estranho quando se desejava pertencer a um lugar.

      Colocou as mãos por baixo da torneira e tremeu ao sentir o frio. Franziu o sobrolho ao perceber que, longe do fogo, a casa estava gelada.

      O propano que alimentava o aquecimento e o esquentador era independente da electricidade. O ar tinha de estar mais temperado. Teve um mau pressentimento e foi verificar o termóstato, tentando activar o aquecedor.

      Mas não aconteceu nada.

      Sentiu um nó no estômago. Se ficassem sem propano e sem o calor que este lhes proporcionava, o seu plano de se manter afastada de Ford ficaria destruído.

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