Um Quarto De Lua. Massimo Longo

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Название Um Quarto De Lua
Автор произведения Massimo Longo
Жанр Зарубежное фэнтези
Серия
Издательство Зарубежное фэнтези
Год выпуска 0
isbn 9788835431527



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      - vou eu - ofereceu-se Gaia feliz.

      - Nao, ainda preciso de ti aqui, deixa que vá o teu irmao.

      - sim, respondeu exausto Elio, que estranhamente tinha um apetite de leao.

      saido da porta de casa, olhou por aí para tentar ver o primo, estava nos campos, sentado no tractor, estava a observar o céu.

      elio aproximou-se gritando, parecia que naquele dia todos tivessem perdito a audiçao porque mesmo ele, como Gaia antes nao lhe respondiam.

      “Esperamos que seja contagioso assim perco eu tambem a audiçao e posso deitar-me sem responder a ninguem” reflectia Elio.

      Devia chegar até perto do veiculo para ter uma resposta.

      - por que estás a gritar? - perguntou Libero.

      - Ja devias estar dentro de casa, está na hora do jantar - respondeu Elio.

      - Venha rapido - convidou-o como quem nao estivesse a ouvir o que estava a dizer.

      - Eu lá em cima?

      - sim, aqui em cima, quero mostrar-te uma coisa.

      Elio subiu, Libero estreitou-se um pouco e sentaram-se juntos.

      - Olha que maravilha! -exclamou Libero apontado o céu - imaginar que alguns anos atras nao conseguia vê-lo.

      - O quê? - perguntou Elio procurando ver nao sei qual estranheza.

      - O céu - repetiu.

      - O céu?

      - Sim o céu, é uma coisa lindissima, mas muitas vezes durante muito tempo da nossa vida nao erguemos a cabeça para observá-lo e nao tenciono observá-lo para ver o tempo que faz, mas admirá-lo em silencio, como faz-se com o mar, que estando numa posiçao favoravel aos olhos, é apreciado com mais frequencia. Tu nunca páras para observá-lo?

      - nao.

      - contudo deverias, é muito fortificante e coloca muitas coisas na justa prespectiva.

      Elio espantou-se de tanta profundidade do primo e ficou em silencio com ele durante um pouco a fixá-lo.

      do branco cegante até as tonalidades do fumo, as nuvens estavam suspensas entre as duas faixas do céu, céu plumbeo em baixo deles, céu turqui em cima, misto aos reverberos ocre de um sol ja quase a pôr-se que as iluminava tornando o seu cume dourado e dando a sensaçao de ser a luz de um outro mundo, ali a iluminar uma vida que sobre eles se desenvolvia. densas, como albumen montado em forma de neve, aquelas brancas, emporcalhadas, como no choro pictorico de uma criança de três anos, aquelas cinzentas.

      entre todas distinguiam-se uma, com a forma de unicornio, que se perfilava no fundo branco como se o cinzento animal corresse nas brancas pradarias celestes. precisamente como num afresco do Tiepolo, este sotao desfundado natural tendia ao infinito que existe além do visivel, ao misterio que faz sentir as nossas pequenas almas e ao mesmo tempo eternas.

      libero de repente saltou para baixo a partir do tractor.

      - Agora tenho fome - disse rindo em voz alta.

      - Tu nao tens Elio?

      - Sim.

      - entao salta para baixo e vamos comer, talves a proxima vez far-te-ei dar uma volta com o tractor.

      e dirigiu-se para casa.

      elio nao perdeu tempo e o seguiu, a fome voltava a fazer-se sentir.

      Quarto Capítulo

      como um mau pressagio, mormurava palavras numa lingua desconhecida

      Elio levantou-se muito cedo, era inevitavel ceder à tia que continuava a chamá-lo com insistencia. fora era apenas a aurora, reparou para o céu que alvorecia e imaginaou novamente por um instante ao pôr do sol da noite anterior, à sensaçao de paz sentida naqueles instantes, mas durou pouco, as suas orelhas começaram a zumbir, um zumbido surdo, pungente, que rasgava a alma e o deixava atirar-se de novo na sua fria realidade.

      Elio, arrastou-se ainda de pijama até à cozinha, esperando de despertar um pouco com o pequeno-almoço.

      A tia, o primo e a sua irmã ja estavam vestidos e penteados como se fosse oito horas da manhã e nao apenas cinco e trinta! havia ar de festa, o seu primo Ercole teria voltado do campo de escutismo. Ida estava excitada pelo regresso do filho, tinha estado fora precisamente durante cinco dias, ficava sempre preocupada quando os seus filhos ficassem fora de casa por causa do incidente sucedido a Libero quando menino e nao quisera por acaso perdê-los de vista.

      O sargento Ida, mal avistado o insubordinado Elio, expulsou-o imediatamente da cozinha para que fosse lavar-se e arrumar-se.

      Ida era uma mulher forte, temperada pelas vicissitudes da vida. Depois da morte do marido e o problema com o filho, tivera que se adaptar a um estilo de vida completamente diferente daquele citadino, que tinha marcado a sua vida nos primeiros anos do matrimonio.

      Dura e arrojada, tinha tomado a peito aquele novo desafio. mais que uma vez tinha-se encontrada sozinha a chorar pelo desespero, mas nao baixou a cabeça.

      O seu ar de general nao devia enganar, dentro era mole como o coraçao de um suflê.

      pouco depois Elio voltou vestido e quase arrumado, embora o humor era negro e a fome lhe acometia.

      sentia o cheiro do leite e chocolate, mas sobretudo dos biscoitos gigantes feitos pela tia no dia anterior, que permanecera pelo ar.

      Eram uns enormes pedaços de pão com leite em forma de tranças misturados com varios aromas: de canela, de anis e, para nao deixar faltar nada, as suas preferidas de sésamo.

      A sua irmã e Libero já estavam a molhá-los no leite.

      Libero perguntou-lhe:

      - sabes quem volta hoje?

      Elio espantou-se pela pergunta:

      - quem? - respondeu.

      - Ercole, o meu irmaozinho!

      Elio nao disse nada mas tinha-se esquecido completamente do primo da mesma idade.

      - Donde? - perguntou como se no dia anterior nao tivessem falado dele.

      - Como donde? - respondeu Gaia - nos disse ontem a tia.

      - Volta do campo de escuteiros - disse sorrindo Libero.

      - Hoje o sotao vos espera - sugeriu a tia com um tom que nao admitia replicas - Mexa-se Elio, vê se acaba já o teu pequeno-almoço e põe-te ao trabalho. Gaia chegará para dar-te uma mao dentro de pouco tempo, agora preciso dela para uma incumbencia.

      elio terminou de tomar o leite num gole imaginando com alivio ao facto de que por um instante ficaria sozinho no sotao numa total tranquilidade. desfrutava da ideia de poder enfiar nas orelhas auriculares do seu amado leitor mp3.

      reparou por aí sem achá-lo, depois voltou para a cozinha e perguntou:

      - Alguem viu o meu leitor por aí?

      - Infelizmente, ontem ficou vitima de um incidente. tinha-o deixado no sofá e quando o abri para preparar a cama ficou embutido no meio do mecanismo de extracçao da rede… nao sobrou muita coisa, mas conservei para ti o cartao de memoria - contou a tia e, buscando-o num pratinho decorativo colocado em cima da credencia, entregou-lhe.

      A jornada tinha precisamente começado mal, pensou o rapaz, subiu a escada que levava até ao sotao com a lentidao que o distinguia e acendeu a luz.

      por toda a parte tinha amontoado coisas, deveria limpar e criar um espaço onde preparar as camas, muito trabalho para ele só de pensar. assim resolveu abrir a grande da janela central, para deixar entrar ar e luz, e depois sentar-se numa esquina qualquer a mandriar à espera da Gaia.

      Os seus olhos viram algo que o afectaram, um livro em cima de uma velha caixa de madeira, como aquele que o estranho senhor entrado no compartimento lia.