O Segredo De Ser Feliz. Aldivan Teixeira Torres

das pessoas que conviviam com ele. Também era muito cedo para pensar no seu lado sexual pois tinha apenas doze anos.

      O tempo passou um pouco e ele cresceu.Tornou-se um jovem bonito,aculturado,otimista,guerreiro,uma pessoa realmente bacana.Mesmo querendo esconder-se de seus impulsos a imagem do menino urinando ainda preenchia-lhe a mente fazendo-o pensar em algo mais concreto.Foi buscando encontrar sua identidade sexual que ele saiu com um garoto e uma garota.Com a garota,não passou das preliminares achando aquilo tudo muito chato.Já com o garoto curtiu bastante e como ele era experiente o fez sentir no sétimo céu.Era vergonhoso admitir mas apesar de tudo o que poderia enfrentar era homossexual.Diferentemente do que a maioria das pessoas pensam,não era questão de escolha e sim uma orientação que trouxera de sua concepção ligado a algo maior falando em ternos de genética.

      O primeiro objetivo tinha sido alcançado.Agora,ele tinha duas opções:Negar esta parte importante de sua vida pois sexo é saúde ou assumir-se.Como ele era um jovem batalhador,escolheu a segunda opção.Da descoberta passou ao planejamento de como e quando revelar esta sua identidade para seus pais.Após muito pensar,decidiu conversar com eles justamente no dia do seu aniversário.Assim foi feito.Numa reunião onde compareceram os mais próximos,ele comemorou a data mais importante de sua vida.Quando tudo ficou mais calmo,ele convocou os pais e os três deslocaram-se a um quarto reservado.Falando num tom gentil,explicou sua situação e suas vontades concluindo que amava muito eles.Neste instante,parece que algo se quebrou,os seus genitores mudaram de cor e baixaram a cabeça decepcionados.Como o menino deles de tão boa família poderia prestar-se a uma coisa daquelas?Falando de forma rude,eles foram unânimes em não aceitar e inconformados resolveram expulsar o filho de casa.Simplesmente eles não queriam mais contato com aquela aberração.Esta palavra que eles nomearam o filho tão querido.

      Cheio de dor e desespero,Peter foi obrigado a fazer suas malas e quando elas ficaram prontas partiu sem destino.Já era noite e ele não tinha ideia do que fazer ou para onde ir.Pensou um pouco,usou seu celular e telefonou para tia pedindo morada por alguns dias.Não entrou em detalhes mas mencionou que estava com problemas familiares.Para sorte sua,a tia o aceitou e então ele dirigiu-se para sua casa que ficava a algumas quadras dali.O primeiro problema estava parcialmente resolvido.A vida ia seguir-se com ele guardando marcas feridas de sua vida passada.Talvez nunca mais fosse o mesmo.

      A tia Evellyn era um amor de pessoa pois soube compreender as razões dele e acolhê-lo.Porém,ele sabia que tinha que agir imediatamente para não ficar dependendo dos outros.Entregando currículos no bairro,ele teve algumas propostas de emprego.Acabou achando um trabalho de garçom.Com o salário,poderia mudar-se da casa da tia e conquistar sua independência.Foi exatamente o que ele fez.Concomitantemente,prestou vestibular e como era muito inteligente e preparado passou no concorrido curso de comércio exterior.Este profissional entende dos métodos de compra e venda de produtos e serviços,entre empresas e governos de países diversos.Ao formar-se nesta área,este jovem teve a oportunidade de estabilizar-se no mercado de trabalho e realizar seus sonhos.

      Numa de suas viagens ao exterior foi que conheceu seu grande amor. Ricardo, português de Lisboa, um moreno alto, magro, corpo esbelto, olhos castanhos claros, pele macia. Ele era embaixador internacional e apaixonaram-se à primeira vista. Conheceram-se por um tempo, viajaram bastante juntos e de comum acordo foram viver em Paris, longe dos olhares maldosos de ambas as famílias. Eles estavam conscientes de que não poderiam ter tudo, mas só de ter a companhia um do outro gozariam de imensa felicidade.

      O tempo avançou mais, eles envelheceram, estudaram mais e resolveram adotar alguns filhos. A felicidade então deles foi completa. Eram uma família com plenos direitos como qualquer outra e não permitiriam que ninguém os humilhasse ou os desprezasse. Todo o passado tenebroso ficara para trás. Agora seriam senhores de sua própria história até que a morte os separe.

Uma profissão que atende prioritariamente as elites

      Estávamos na são Paulo da década de oitenta. O casal formado por Rodrigo Silva e Samanta Teixeira esforçavam-se por sobreviver numa cidade grande. Oriundos do Nordeste, o primeiro era metalúrgico e a segunda cuidava de idosos num asilo. O que eles ganhavam mal dava para sobreviver, mas comparado à realidade catastrófica que o nordeste vivia era bem melhor.

      Em dado momento, ambos perderam o emprego e como não tinham qualificação profissional suficiente não seria fácil uma recolocação no mercado de trabalho. Até tentaram algumas vezes, mas em todas as oportunidades a resposta foi negativa. Sem alternativas, decidiram voltar para sua terra em busca de novos horizontes.

      Chegando lá, usaram o dinheiro da indenização trabalhista para abrir um pequeno negócio, uma bodega de alimentos sortidos. Se tudo desse certo, poderiam sustentar a si mesmo e aos três filhos pequenos. Como eram bem esforçados, tudo começou a prosperar. Os filhos cresceram com objetivos distintos. Uma era aplicada aos estudos, outro mais ligado aos negócios da família e a terceira era deficiente.