O príncipe cruel. Jane Porter

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Название O príncipe cruel
Автор произведения Jane Porter
Жанр Языкознание
Серия Sabrina
Издательство Языкознание
Год выпуска 0
isbn 9788413489858



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Os borguistas até tinham desembarcado na ilha naquela manhã. Ela tinha-se escondido entre as árvores da falésia sobre a praia. As jovens eram impressionantes, bronzeadas, esbeltas e com biquínis quase inexistentes, e os homens eram belos e musculados. Continuavam ali a festa e havia muito álcool e outras coisas que a fizeram franzir o nariz. Só havia um que não bebia, não fumava nem fazia amor na praia. No entanto, todos o rodeavam, era o centro do grupo.

      Observou-os com curiosidade e verdadeiro desdém. Não queria julgá-los, mas era evidente que levavam uma vida de privilegiados. O seu pai dizia que os criticava porque nunca tinha entrado naquele tipo de grupos e talvez tivesse alguma razão, mas gostava de usar o cérebro e trabalhar com o pai, um dos vulcanólogos mais importantes do mundo, razão pela qual viviam no meio do mar Egeu. Ela documentava os achados do pai e era indispensável para as suas investigações. Ele era o primeiro a reconhecer que sem ela não conseguiria fazer tanto trabalho, mas ao fim do dia, dedicava-se à sua paixão, a desenhar, a pintar… Restava-lhe pouco papel e telas, mas o seu pai voltaria dentro de dez dias e trazia-lhe sempre material novo. Esta tarde tinha ido até às rochas sobre a enseada com o seu caderno para desenhar o que mais lhe chamava a atenção naquela cena festiva, o homem que lhe parecia mais fascinante por ser diferente. Tinha o cabelo escuro e espesso, as sobrancelhas retas e os olhos claros, não sabia se azuis ou cinzentos. O queixo era quadrado, tinha as maçãs-do-rosto prominentes e a boca era carnuda, firme e séria. Os seus traços eram quase demasiado perfeitos e adoraria estar mais perto para saber a cor dos seus olhos. Embora o mais intrigante fosse a sua forma de sentar-se na cadeira, com os ombros muito direitos e o queixo levantado. Observou-o para comparar o desenho com o homem real e, efetivamente, tinha reproduzido o seu corpo musculoso e os traços, mas a sua expressão não era a acertada. Intrigava-a aquela expressão, o que a levava a observá-lo até tentar entender. Estava aborrecido ou era infeliz? Parecia não querer estar ali com aquelas pessoas. Era um mistério e ela gostava de quebra-cabeças.

      Então, ele levantou-se e toda a gente recolheu as suas coisas para voltar para o iate.

      Ela alegrou-se e fechou o caderno, mas também se sentiu algo dececionada quando a lancha levou o misterioso homem para o super iate que estava fundeado à entrada da baía. Ele era o homem mais interessante que já tinha visto na sua vida e tinha-se ido embora.

      Nessa tarde, ao final do dia, estava a terminar as verificações rotineiras quando ouviu umas vozes, como uma discussão que chegava da enseada. Foi à praia e apurou o ouvido, mas só ouviu o murmúrio do motor do barco. Será que por fim se iam embora? Como de costume, estava iluminado e podia ver os casais que estavam deitados e bebiam na coberta superior.

      O iate movia-se, podia ver o sulco nas águas, e lamentou que o seu homem misterioso se afastasse, mas ficou contente por o ruído desaparecer. Continuava a olhar quando ouviu um grito apagado e viu que uma pessoa caía pela borda. Foi na popa, onde estavam pessoas entre as sombras da coberta inferior. Correu até à orla, mas não viu ninguém na superfície da água. Aterrorizava-a que alguém pudesse estar a afogar-se e não podia ficar de braços cruzados. Despiu o vestido de alças e atirou-se às ondas para nadar até onde tinha estado ancorado o barco. Mergulhou, mas estava tudo estava muito escuro. Mergulhou com os pulmões prestes a explodirem. Estava quase a voltar à superfície quando tocou um tecido, um peito, umas costas, um homem… Rodeou-lhe o pescoço com um braço, mas ia precisar de alguma força divina porque os pulmões reclamavam ar urgentemente.

      Começou a subir. Pesava-lhe o seu corpo, mas nunca tinha mergulhado com tanta determinação. Tinha crescido no mar, passara a vida a nadar, e sabia que podia fazê-lo porque não estava sozinha. Achava que o destino a tinha levado ali quando ele caiu borda fora e que estava destinada a salvá-lo… e salvou-o. Atingiu a superfície, respirou e levou-o até a praia. Arrastou-o para fora da água e pô-lo de costas sobre a areia seca para que lhe saísse a água da boca e do nariz. Depois, deitou-o de costas outra vez e deu-se conta de que era ele, o seu maravilhoso homem misterioso, o que parecia não tolerar aqueles tontos… Nunca tinha reanimado ninguém, mas o seu pai ensinara a fazê-lo e ainda se lembrava do essencial. Repetiu a operação várias vezes enquanto rezava para receber ajuda divina, não estava disposta a perdê-lo. Tinha de respirar! Então, quando começava a acreditar que os seus esforços eram inúteis, ele levantou um pouco o peito. Voltou a respirar com força na sua boca e ele exalou ar. O seu peito subiu e baixou com a respiração entrecortada, mas estava vivo. Arderam-lhe olhos com as lágrimas e, esgotada, sentou-se nos calcanhares. Salvara-o, mas que fazia com ele? Precisava de ajuda médica e não sabia como pedi-la. O rádio estava estragado. O seu pai levaria um quando voltasse, mas demoraria uns dias. Normalmente, era-lhe indiferente estar incontactável, já tinha estado antes, mas agora era diferente.

      Olhou para o mar e só viu o leve resplendor do iate no horizonte. Como era possível que ninguém se tivesse dado conta de que tinha caído ao mar?

      Afastou-lhe o cabelo da frente e então deu-se conta de que tinha a têmpora manchada de sangue. Tinha-se ferido antes de ter caído borda fora, ou de o terem atirado.

      Ouvira uma discussão, fora isso que lhe chamara a atenção, e o murmúrio do motor. Parecia que lhe tinham batido na cabeça, mas porquê?

      Pestanejou. Doía-lhe a cabeça. Tentou sentar-se, mas tudo começou a andar às voltas. Não percebia porque é que tudo parecia tão nublado, mas entreviu uma mulher com ar de preocupada e a cara em cima da dele.

      Conhecia-a de algum sítio? Não conseguia pensar e fechou os olhos para se deixar levar pela inconsciência, até que a dor o acordou outra vez. Abriu os olhos e comprovou que era de dia, embora não soubesse se era cedo ou tarde.

      Uma mulher movia-se pelo quarto. Tinha um vestido branco, largo e vaporoso. O cabelo, longo e liso, chegava-lhe quase até à cintura. Por um instante, perguntou-se se seria um anjo, se teria morrido e estaria no céu. Tentou erguer-se e sentiu náuseas. Deixou-se cair outra vez sobre a almofada e compreendeu que não podia estar no céu se sentia aquela dor.

      O anjo com forma de mulher devia ter ouvido o seu rabujar porque voltou-se e aproximou-se. Era tão jovem e formosa que, de facto, não podia ser real. Talvez tivesse febre e estivesse a alucinar porque ela se ajoelhou ao seu lado com a luz a refletir-se no cabelo castanho claro. Era possível que o inferno estivesse cheio de belezas diabólicas assim.

      Por fim estava a voltar a si.

      – Olá – cumprimentou-o Josephine em inglês até que se lembrou de que as conversas que tinha ouvido na praia eram em francês e italiano. – Como estás? – perguntou-lhe em francês.

      Ele pestanejou os seus olhos azuis, embora sem conseguir focar a visão.

      – Como te sentes? – insistiu ela em italiano.

      Ele fez uma careta de dor e também respondeu em italiano.

      – Tu chei sei?

      – Sou a Josephine. Feriste-te, mas já paraste de sangrar.

      – Que aconteceu?

      – Caíste do teu iate.

      – Um iate?

      – Sim, estavas com uns amigos.

      – Onde estou? – perguntou ele sem deixar de falar em italiano.

      – Em Khronos, uma pequena ilha de Anafi.

      – Não conheço.

      – Ninguém conhece. É propriedade privada e tem um centro de investigação da Fundação Internacional de Vulcanologia… – calou-se quando comprovou que não a estava a ouvir e tinha uma expressão contraída. – Dói-te?

      – Sim, a cabeça…

      Ela tocou-lhe na testa com a mão e, felizmente, já estava mais fria.

      – Ontem à noite tinhas febre, mas acho que já passou. Se conseguires beber, podes tentar tomar um pouco de sopa….

      – Não tenho fome. Só quero algo para a dor.

      – Tenho uns comprimidos que devem servir, mas acho que antes deverias comer qualquer