Название | Para além da verdade |
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Автор произведения | Robyn Donald |
Жанр | Языкознание |
Серия | Sabrina |
Издательство | Языкознание |
Год выпуска | 0 |
isbn | 9788413485416 |
Um homem com aspecto de pugilista saiu de um Mercedes estacionado em frente da galeria e abriu a porta.
Rowan deixou-se cair no banco de pele, infinitamente mais cómodo que os bancos do descapotável de Tony.
Mas tinha de se lembrar daquilo que o dinheiro tinha feito a Tony.
«Ele era um fraco e Wolfe Talamantes não o é», respondeu-lhe uma vozinha lá do fundo da sua consciência.
E, portanto, era muito mais perigoso. Incomodada, observou o duro perfil de Wolfe, mas teve de afastar o olhar imediatamente.
– Uma mulher misteriosa – disse ele por fim.
Rowan imaginou que, provavelmente, estava tão seguro de si mesmo que já estaria a imaginar ter a sua morada e telefone depois do primeiro prato.
E decidiu que não lho diria, por muito que o seu corpo respondesse à sensualidade daquele homem.
O Oliver ficava no primeiro andar de uma torre de luxuosos apartamentos.
– É um restaurante muito discreto – explicou Wolfe quando entraram no enorme vestíbulo, uma espécie de templo com sofás desenhados especificamente para aquele local e chão de mármore. – Suponho que te chocará depois da discrição japonesa, mas a comida é muito boa.
O chefe de mesa, que parecia estar à espera deles, conduziu-os a uma mesa afastada das demais. Ao fundo ficava a pista de dança onde uma orquestra de jazz tocava um ritmo suave e sensual.
Wolfe pediu uma garrafa de champanhe francês, daquelas que Rowan somente vira em filmes.
– Que quer tomar?
Ela ficou paralisada ao sentir o impacto do seu olhar. Sabia-o, sabia o que sentia porque ele sentia a mesma coisa. A intuição advertiu-o que gostava tanto como ela… e que, como ela, era incapaz de o controlar.
O seu apetite desapareceu para dar lugar a outro apetite mais exigente e escolheu o primeiro prato que vinha no menu.
– Cogumelos. Depois, peixe… salmão grelhado, por favor.
Wolfe pediu salada e escalope de vitela. Um carnívero convicto, concluiu Rowan, tentando incluí-lo nessa categoria para enfraquecer o fascínio que exercia sobre ela.
Mas não funcionou.
O primitivo atractivo de Wolfe Talamantes era um desafio à sua condição de mulher. Algo novo para ela.
O empregado trouxe a garrafa de champanhe francês e o ritual de abrir a garrafa e servir as taças fez com que a tensão aumentasse.
Quando o empregado se afastou, Wolfe levantou a taça.
– Ao futuro.
– Ao futuro – sorriu Rowan, tomando um gole. Era delicioso. Sabia a felicidade, a sonhos, a sorrisos e a luz do Sol. – Lamento ter-me rido do seu nome. É que achei graça.
– E de onde saiu o seu?
– Rowan? É o nome de uma planta, como rosa e violeta.
Wolfe concordou, pensativo.
– Eu sei. Também se chama sorveira. Uma árvore que dá bagas e flores em todas as estações.
Olhava-lhe para os seios, marcando-os com o calor dos seus olhos. Não era um olhar lascivo, mas sim impessoal. A sua indiferença confortava-a e decepcionava-a em partes iguais, confundindo-a ainda mais.
– A minha mãe apaixonou-se por essa árvore durante a lua-de-mel.
– Em Inglaterra plantam-nas para se protegerem das bruxas – Wolfe sorriu.
– Deve lá haver muitas bruxas. Aqui faz tanto calor, que não podem crescer.
– Que fazem às bruxas no norte?
Rowan julgou ter detectado qualquer coisa nas suas palavras, algo tão perturbador como o calor dos seus olhos.
Então assustou-se. Mas o senso comum disse-lhe que Wolfe Talamantes não era o tipo de homem que ficasse obcecado fosse pelo que fosse. A autoridade natural que emanava dele era aquilo que Tony não tinha e tentava imitar com um comportamento alucinado.
– Bruxas? Ah, no norte aprendemos a viver com elas. Qual é a origem do seu nome?
– Já tem várias gerações na minha família. A minha mãe esperava que acrescentando-lhe um «e» aparentasse ser mais nobre…
– De facto, imprime-lhe mais personalidade – Rowan sorriu.
Lobo era sinónimo de ferocidade e violência. E Wolfe Talamantes, apesar do seu elegantíssimo fato e maneiras requintadas, era mais parecido com um lobo.
Ninguém consegue ter êxito no mundo dos negócios sem usar métodos pouco civilizados. Para o conseguir não podia ter escrúpulos, havia que ser implacável. A sua experiência, ainda que limitada, com homens ricos tinha-a ensinado que usavam sempre o dinheiro como uma arma.
Sentiu novamente um arrepio. Mas ignorou-o porque, que podia fazer Wolfe Talamantes?
Nada.
Depois de terminado o jantar, despedir-se-ia e voltaria para o apartamento de Bobo. No dia seguinte regressaria à baía de Kura e nunca mais o veria. Rowan bebeu um pouco mais de champanhe e fez um brinde silencioso à sua liberdade.
– Gosta do champanhe?
– É muito bom.
Por que não aproveitar aquela noite? Quem a impediria? Não era culpa de Wolfe que lhe recordasse Tony.
Ele sorriu também. Um sorriso enigmático.
Por fim chegaram os pratos. Tinham um aspecto delicioso e um sabor divinal também. Enquanto comiam, falaram sobre teatro, cinema, literatura e até acerca das suas vivências no Japão.
Wolfe tinha viajado muito. Tibete, Europa, México, onde ia visitar a avó. Falava com carinho e respeito acerca do país e de como era interessante conhecer outras culturas. Por baixo do seu sarcástico sentido de humor e do seu jeito para contar histórias, Rowan apercebeu-se de que ele possuía uma formidável formação intelectual. Não era um homem a quem se pudesse desafiar. Se bem que ela não pensasse desafiá-lo. Só queria afastar-se do seu caminho.
– Eu também gosto de viajar. Mas mal saí da Nova Zelândia.
– Teve a rara experiência de viver vários anos noutro país. Nem toda a gente tem essa sorte.
– Bom, é verdade. Foi um privilégio.
– Quando tempo demorou a aprender japonês?
– O meu mestre não sabia uma palavrinha em inglês e, por isso tive de aprender rapidamente. Passado um ano já conseguíamos comunicar. Fala espanhol?
– O meu pai falava espanhol connosco, cresci numa família bilingue.
– Mas a sua mãe era americana, não?
– Sim. Ela aprendeu espanhol para agradar ao meu pai – explicou ele, com um olhar estranhamente frio. – Quando volta para casa?
– Amanhã.
Wolfe assentiu com a cabeça.
Rowan tentou sorrir, mas sentiu-se estúpida por ter ficado tragicamente decepcionada pelo desinteresse do homem.
– Agora percebo porque é que este restaurante está na moda. A comida é deliciosa.
– Formidável – respondeu ele, em tom irónico. A orquestra de jazz começou a tocar uma melodia suave, muito sensual. – Quer dançar?
– Não, obrigada – recusou ela.
Sem contar com o aperto de mão, não lhe tinha tocado… e pretendia continuar assim, ou talvez não quisesse, mas teria de ser assim. Aquele estranho canto de sereia estava a transformá-la numa mulher tão consciente do seu corpo, que quase vibrava de desejo.