Cian. Charley Brindley

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Название Cian
Автор произведения Charley Brindley
Жанр Приключения: прочее
Серия
Издательство Приключения: прочее
Год выпуска 0
isbn 9788835410249



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e sinalizou na direção em que os outros homens vinham.

      – Um parece polícia.

      Ela estava falando comigo, mas olhando para Silveira e seu parceiro.

      Obviamente, os dois homens a entenderam. Eles trocaram olhares, depois correram em direção à traseira do caminhão, entraram no contêiner de carga e bateram as portas de metal atrás deles.

      – Vamos – Kaitlin sussurrou para mim – precisamos ir.

      – Está tudo bem agora – eu disse – o policial vai cuidar deles.

      – Seu idiota – ela sussurrou enquanto se afastava – Não tem ninguém vindo.

      Eu e Rachel corremos atrás dela.

* * * * * * 

      Uma hora depois, saí do pequeno café, apropriadamente chamado Extremidade das Docas, para ver se encontrava um guia. Levei um copo com café quente e deixei minha irmã e sobrinha terminarem o café da manhã. Enquanto isso eu explorava as plataformas mais instáveis que ficavam depois das docas comerciais.

      Cheguei a um cais de madeira e areia que se estendia até o rio. Estava deserto, exceto por uma pessoa sentada mais pro final. Coloquei meu copo vazio numa tina de lixo e fui caminhando em direção àquela figura. Talvez eu pudesse perguntar sobre a pesca e ter um pouco de informação.

      Quando parei ao lado da menina sentada, a jovem me olhou de cima a baixo. Das minhas botas de couro arranhadas, passando pelas calças cáqui e camisa, até meu chapéu Panamá desgastado. Seus olhos hesitaram ao ver meu velho isqueiro Zippo, enfiado na faixa do chapéu. Ela voltou sua atenção para a água, obviamente sem se impressionar.

      Ela estava nua acima da cintura, exceto por um amuleto pendurado em um cordão de couro em volta do pescoço. Inclinei minha cabeça para ver melhor.

      – Isso é um modem da IBM?

      Seus olhos se estreitaram em mim como se eu tivesse dito algo inapropriado. Ela se sentou, com um joelho levantado, apoiando o pé nas tábuas do cais e usava um pedaço de tecido adamascado como saia. Sua outra perna, cortada de forma bruta de um pedaço de mogno ou algo assim, pendia na água barrenta.

      Ela me ignorou, puxou um rato, que se debatia de um saco de estopa, e então jogou o roedor cinza às piranhas pretas. Sua expressão era fria, como se ela não se importasse com o que comeu quem, desde que alguém fosse devorado.

      O modem dela não aparentava ser lento e antiquado, o tipo que se esperaria encontrar na selva, mas um dispositivo moderno projetado para comunicações rápidas; da largura de uma caixinha de mentos e tão fino quanto o dedo anelar de uma mulher. 'IBM' estava impresso ao lado, seguido de 'USB'; provavelmente pertencera a um notebook e era de fabricação recente. Um pedaço de couro trançado atravessava um buraco em um canto, e triângulos feitos do pelo de animais cobriam as bordas, protegendo as partes macias do seu corpo.

      Era uma pena esse buraco no modem, poderia ter servido pro notebook que planejava comprar para Kaitlin, após nossa viagem de volta a Lisboa. Esse computador seria uma grande ajuda para minha irmã na organização dos dados que ela coletou.

      – Você sabe o caminho para Alichapon-tupec?

      A mulher olhou para mim por um longo tempo, sem falar. Seus olhos escuros tinham uma intensidade suave que era quase hipnótica, eu sentia necessidade de desviar o olhar, mas não conseguia.

      Algo espirrou violentamente na água abaixo do final do cais e depois se aquietou. Um papagaio chamava seu companheiro que havia se afastado para se juntar à fêmea no lado oposto do rio. Uma brisa preguiçosa trouxe um leve cheiro de jasmim, tocando o cabelo da mulher e  as delicadas pétalas vermelhas e amarelas enfiadas na orelha esquerda. O alto sonido de um macaco reivindicando seu território ecoou por toda a floresta. Todos esses eventos preencheram o espaço em questão de segundos, mas parecia muito mais tempo enquanto a jovem ainda fitava meus olhos, como se fosse capaz de enxergar para além dos meus rasos pensamentos.

      Finalmente, ela falou comigo em yanomami e apontou para algumas canoas amarradas ao longo do cais, me dispensando com o gesto. Não entendi as palavras dela, só reconheci a língua yanomami porque a ouvi falada por muitos naquela região do Amazonas. Quando fiz sinais da minha ignorância, ela me lançou um olhar que não posso dizer que era hostil, mas também não foi amigável. Irritação foi a sensação que me que veio à mente. Eu olhei para as piranhas; elas também pareciam um pouco irritadas com a minha intrusão. O rato já não estava à vista.

      Ela pegou minha mão para se levantar e fiquei surpreso com sua falta de altura. Seus cabelos escuros e brilhantes estavam repartidos no meio, e o topo da cabeça alcançava apenas o nível do meu peito. Um momento antes, quando estava olhando para mim, pensei que ela fosse tão alta quanto eu, ou talvez maior. Mas era apenas uma projeção de estatura, uma aura de coragem que era surpreendentemente forte. Agora que ela estava de pé, olhava para seu tamanho, mas a aura permanecia.

      Ela jogou os longos cabelos por cima do ombro, enquanto o sol brilhava em seu amuleto. Pensando no que teria acontecido ao proprietário anterior do modem quis alcançá-lo, mas antes que meus dedos o tocassem ela me deu um tapa, com força.

      Fiquei tão atordoado que não consegui reagir por um momento. O impacto de sua mão no meu rosto sacudiu uma lembrança há muito enterrada. Acho que já fazia uns cinco anos desde a última vez que uma mulher me deu um tapa, a lembrança ficou nítida. Rivadávia, Argentina. No meio do verão, tão quente na varanda tórrida que nada se mexia, nem mesmo o pequeno lagarto verde que subira os galhos de um palo borracho naquela manhã, para uma refeição saborosa de moscas e formigas. Lauren me dera um tapa naquele calor subtropical e na mesma bochecha, embora não tão duro quanto o que eu acabara de receber.

      Lauren era uma mulher bonita, mas talvez um pouco abaixo do nível de perfeição. Ela acreditava em todas as teorias da conspiração que ouvia e, como trabalhava em uma agência governamental, lidando, penso, com exportações e coisas do tipo, achava que pessoas obscuras estavam sempre atrás dela. Era nervosa, de temperamento quente, eu deveria saber que ela explodiria algum dia.

      Lauren estava há anos e milhares de quilômetros, daquele pequeno cais no Rio Negro, onde eu acabara de levar um tapa novamente. Esfreguei minha bochecha ardente e, quando olhei para as pontas dos dedos, vi uma fina faixa de sangue, junto com um mosquito achatado.

      – Um pouco exagerado, não acha? – Eu disse enquanto ajustava meu chapéu de volta no lugar.

      Ela não respondeu; só me olhou de novo com um reflexo nos olhos, como se estivesse me desafiando a lhe dar um soco.

      Se o mosquito era um espectador inocente de um avanço insolente ou se a mulher estava me salvando de um caso de malária eu não tinha certeza. Reconheci, no entanto, as marcas distintas das asas de um Anopheles Punctipennis, uma fêmea, é claro, e portadora conhecida da temida doença.

      Se o tapa na cara era sua maneira primitiva de me manter saudável, então com que propósito? Eu nunca tinha ouvido falar de canibalismo naquela parte da Amazônia, mas também nunca havia visto uma donzela seminua bonita alimentando ratos com piranhas.

      Quando ela se abaixou para pegar seu arco e aljava de flechas, senti um impulso há muito adormecido dentro de mim. Antes que esse sentimento se fundasse, ela endireitou-se e disse algo para mim, acenando para a outra bolsa. Isso eu entendi; algumas coisas não precisam de tradução.

      Respirei fundo para acalmar meu coração acelerado, depois peguei o saco de ratos e a segui pelo cais, combinando meus passos com os dela. Enquanto caminhávamos, notei as fileiras de pequenos dentes ao redor da marca d' água na perna de madeira; se feita por ratos ou piranhas, eu não saberia dizer.

      Chegamos a uma pequena canoa, e ela a apontou. Eu disse que estava viajando com outras pessoas.

      Usando um poico de mímica, ela fez uma pergunta. Eu assumi que era sobre minha companhia.

      – Duas – respondi – uma delas é dessa altura – Estendi