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preceitos. Mandou depois se construisse um templo cuja guarda e governo foram confiados a Arão, irmão de Moysés, sendo os mais descendentes de Levi feitos ministros do mesmo templo, com o nome de levitas. Este templo, que era portatil, e se chamava tambem tabernaculo, acompanhava o exercito e era dividido em duas partes: na interior, que se chamava sancta sanctorum, estava a arca do testamento, e só intrava o summo sacerdote; na exterior havia um altar, em que se queimavam essencias e um candelabro com septe lumes.

      Passados quarenta annos de peregrinação estavam os Israelitas na terra da promissão, a cuja vista havia morrido Moysés, na edade de 120 annos e depois de ter abençoado o povo.

      A terra da promissão era uma provincia da Asia, chamada hoje Palestina ou Terra Santa, que comprehendia varios reinos pequenos, conhecidos pela denominação de reinos dos Cananeus. Morto Moysés, ficou com o governo do povo Josué filho de Num, ao qual o Senhor appareceu dizendo-lhe que metesse os Hebreus na posse da terra da promissão, dividindo as terras pellas differentes tribus e familias. Josué teve que combater e vencer varios povos e reis, e que conquistar varias cidades da Palestina. Dividida esta pelos povos de Israel, obrigaram-se estes a dar a decima parte dos fructos da terra aos levitas.

      Morrendo Josué na edade de 110 annos, seguiu-se-lhe o governo dos juizes, dos quaes os mais celebres foram Debora, Gedeão, Jephte e Sansão. D'este ultimo contam os livros santos que, sendo ainda muito moço e sahindo-lhe ao incontro um leão, o despedaçou logo; depois matou de uma vez trinta Philisteus; e de outra, depois de haver quebrado umas cordas muito fortes com que o tinham amarrado, matou mil Philisteus com a queixada de um jumento. N'outra occasião, incerrado pelos Philisteus na cidade de Gaza, sahindo de noite, arrancou as portas da cidade e levou-as a um alto monte. Depois d'aquellas façanhas e de outras, deixou-se inlear no amor de Dalila, á qual declarou que a verdadeira causa da sua força consistia em ser dedicado a Deus e em não lhe terem jámais cortado os cabellos; Dalila, senhora de tal segredo, fez com que Sansão adormecesse nos seus braços e, vindo os Philisteus, cortaram áquelle os cabellos, pelo que perdeu a força e foi aprizionado.

      Os Philisteus, vencido assim Sansão, tiraram-lhe os olhos e trataram-n'o indignamente até que, passado algum tempo, tendo-lhe novamente crescido os cabellos, recuperou a força; e, sendo então levado pelos Philisteus ao templo de seu falso deus Dagão, para zombarem d'elle, abraçou Sansão duas columnas do mesmo templo e moveu-as com tal impeto, que o edificio abateu, morrendo esmagados quantos n'elle estavam, incluido o proprio Sansão.

      O ultimo juiz que governou o povo hebreu foi o propheta Samuel, durante o governo do qual os Israelitas pediram a Deus que lhes désse um rei, o que Deus concedeu, mandando a Samuel que ungisse a Saul, como rei, e esse foi o primeiro dos reis de Israel. A principio regeu Saul, conforme ás leis e ao temor de Deus, mas depois faltou a uma e outra coisa, pelo que mandou o Senhor a Samuel que ungisse como rei a David, mancebo muito valoroso, da tribu de Judá, e que havia morto o gigante Golias, que desafiava o exercito de Israel. Saul, sabendo da eleição de David, perseguiu-o e não quiz depor o poder; mas afinal, vencido na guerra contra os Philisteus, suicidou-se. Introu então David na posse pacifica do governo, comquanto tivesse que sustentar guerras contra os Philisteus, os Ammonitas, os Syrios, os Idumeus e os habitantes de Damasco, vencendo a todos estes inimigos. Preparou os materiaes necessarios para edificar um magnifico templo, que não chegou a construir por Deus lh'o haver prohibido; trasladou a arca do testamento para o seu palacio de Jerusalem, fez rigorosa penitencia por graves peccados que tinha commetido; compoz muitos psalmos em louvor de Deus; e practicou muitos outros actos de soberano justo e sabio.

      A David succedeu no reinado seu filho Salomão, que foi muito sabio e sagaz, e cujo governo foi assignalado por grandes riquezas e prosperidades. Durante todo o tempo que governou, conservou em paz o reino de Israel; foi temido e respeitado pelos principes vizinhos, muitos dos quaes eram seus tributarios; as suas frotas levavam-lhe grande quantidade de oiro e de materias preciosas; floresceu o commercio em todo o paiz; e a sabedoria do rei era admirada nos reinos estranhos. Empregou Salomão grandes riquezas em edificar um templo grandioso, para a adoração de Deus, onde havia preciosissimos vasos e um grande numero de ministros do Senhor. Esse templo excedeu tudo quanto se pode imaginar de magnificente. Edificou tambem um sumptuoso palacio, para sua morada.

      Antes de ter revelado a sua sabedoria em muitos livros que escreveu, mostrou-a tambem na sabia sentença que pronunciou, conhecida pelo nome de «juizo de Salomão». Teve ella a seguinte origem. Duas mulheres viviam juntas e tinham cada uma seu filho. Aconteceu morrer uma das creanças, e cada uma das mães dizia ser seu o que ficára vivo. Foram ambas ter com Salomão, para que decidisse a contenda. Decidiu o rei que se cortasse ao meio o menino disputado e que se désse metade d'elle a cada contendora. Uma das mães acceitou a sentença; mas a outra clamou que antes se désse o menino inteiro e vivo á sua rival. Assim concluiu Salomão que a verdadeira mãe era aquella que não consentia na morte da creança. Mandou por isso que esta lhe fôsse intregue.

      Por espaço de muitos annos observou Salomão a lei de Deus, governando o seu povo com grande sabedoria e justiça; mas nos ultimos annos da vida prevaricou, edificando templos aos falsos deuses, adorados por mulheres estrangeiras que tomou contra os preceitos de Deus. Não se sabe com certeza se chegou a arrepender-se d'este peccado, de que foi reprehendido pelo Senhor; mas julga-se que se arrependeu, compondo então o livro sagrado chamado Ecclesiastes, que figura no Novo Testamento e em que mostrou a vaidade das grandezas humanas.

      A Salomão succedeu Roboão, seu filho, principe imprudente e tyrannico, que, pedindo-lhe o povo que o alliviasse dos tributos, respondeu que não só o não faria, antes os havia de augmentar e tratar os Israelitas como escravos. Vendo e ouvindo isto, dez tribus rebellaram-se contra Roboão, acclamando por seu rei a Jeroboão, homem sedicioso e impio; e só as tribus de Judá e de Benjamin ficaram na obediencia de Roboão, que se viu obrigado a fugir precipitadamente para Jerusalem.

      Dividiu-se assim o reino em dois: a parte que permaneceu sujeita a Roboão chamou-se Reino de Judá, ou Judéa; a outra, que seguiu a Jeroboão, denominou-se Reino de Israel.

      Jeroboão esqueceu a lei de Deus, mandou fabricar bezerros de oiro, que fez adorar como divindades, sendo assim causa da maior parte dos Israelitas cahirem em idolatria. Na mesma impiedade viveram os seus successores, os 21 reis que governaram Israel por espaço de 254 annos, findos os quaes foi o reino destruido pelos Assyrios e seu rei Salmanazar, que tomou Samaria e levou captivas as dez tribus de Israel.

      No reino de Judá continuou-se a adorar o verdadeiro Deus, ainda que Roboão e muitos dos seus successores por varias vezes permittiram a idolatria; por isso foi o reino castigado pelo Senhor, que o intregou aos seus inimigos. O reino de Judá durou por 468 annos, contados do principio do reinado de David. Os peccados dos Judeus foram causa de Deus os intregar aos Chaldeus que, governados por seu rei Nabucodonosor, tomaram a cidade de Jerusalem, queimaram o templo do Senhor, e levaram os Judeus para o seu paiz. Este captiveiro chamou-se o «captiveiro de Babylonia» que durou por mais de 70 annos.

      Foi dada a liberdade aos Judeus por Cyro, rei dos Médos, Persas e Chaldeus, o qual subjugou estes dois ultimos povos, ganhou varias batalhas e tomou Babylonia. Tomada esta cidade permittiu Cyro aos Judeus que regressassem á sua patria, o que se effectuou sob o mando do summo pontifice Josué e de Zobadel. Mal chegaram a Jerusalem, o seu primeiro cuidado foi a re-edificação do templo, a qual não poderam logo levar a effeito por lh'o impedirem os Samaritanos, conseguindo por fim concluil-a Zorobabel, mediante o auxilio de Dario I. por pouco durou a independencia dos Hebreus. As reformas de Esdras, nas quaes se comprehendia a prohibição de casamentos com mulheres de outras nações, e a dissolução das familias até então constituidas contra esse preceito, originaram um scisma, em que parte do povo se reuniu aos Samaritanos, ficando a nação muitissimo infraquecida. Aproveitando este estado, subjugaram os Persas a Judéa, cuja historia desde então até á conquista de Alexandre se confunde com a das outras provincias humildes, sujeitas ao dominio d'aquelle imperador. Continuou a rivalidade entre os Judeus e os Samaritanos, aos quaes os primeiros não permittiam a intrada no templo de Jerusalem. Os Judeus não constituiam assim já um povo, mas uma simples communidade religiosa ou uma casta sacerdotal, isolada no meio das outras populações do grande imperio persa.

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