A Revolução Portugueza: O 5 de Outubro (Lisboa 1910). Abreu Francisco Jorge de

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Название A Revolução Portugueza: O 5 de Outubro (Lisboa 1910)
Автор произведения Abreu Francisco Jorge de
Жанр Историческая литература
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Costa, visconde da Ribeira Brava, Alvaro Pope, Marinha de Campos, Ernesto Pope e Arthur Cohen. Á casa da rua do Desterro foram dezenas e dezenas de pessoas receber armamento, instrucções, etc. A senha de entrada era Jasmim.

      Não é facil, por variadas razões, reproduzir, na actualidade e na integra, o plano do movimento. Já decorreram sobre elle alguns annos e estamos certos de que n'esse projecto muita coisa havia que, a ser cumprida rigorosamente, resultaria em fraco beneficio para o exito do complot. Na revolta de 4 e 5 de outubro cremos mesmo que se emendou a mão em varios pontos considerados essenciaes no plano do 28 de janeiro. A experiencia ainda é, afinal, a grande mestra da vida.

      Mas se não podemos dar muitos pormenores sobre o projecto da revolta, da qual derivou logicamente o regicídio, é-nos licito, no emtanto, fixar aquellas das suas bases que são do conhecimento da maioria dos implicados na conspiração. Em primeiro logar, o exercito de terra e mar só se sublevaria depois de vêr feitos certos signaes que lhe communicariam a prisão do dictador João Franco. Quer dizer: a grande orchestra do complot não devia principiar o concerto sem que a batuta do regente se movesse a romper a marcha…

      A prisão do dictador devia ser levada a effeito por um grupo civil entre as 4 e as 6 da tarde, quando elle, sahindo de casa, no alto da Avenida, se dirigisse para o Terreiro do Paço. Preso, conduzil-o-hiam para bordo d'um vapor de pesca, o Dinorah, d'onde o transportariam depois para qualquer navio de guerra revoltado. Entretanto, Machado dos Santos e Serejo Junior assaltariam o corpo de marinheiros; Soares Andréa tomaría o Arsenal de Marinha, auxiliado pela respectiva guarda e um grupo civil; Candido dos Reis iria a bordo do S. Gabriel, onde o 1.º tenente Branco Martins teria á sua disposição grande parte da guarnição do navio e muitos milhares de cartuchos; o visconde da Ribeira Brava, com um grupo civil bem municiado, occuparia o Arco da Rua Augusta e todas as platibandas dos ministerios que dominam as ruas da Prata, Augusta e Ouro e embocaduras das ruas da Alfandega e Arsenal.

      No ataque aos navios de guerra entraria, por conveniencia dos marinheiros revolucionarios, o 2.º tenente de marinha Bernardo Alpoim, que fizera n'alguns d'elles activa propaganda contra a dictadura franquista. A sahida das forças da municipal aquarteladas no Carmo estava cortada por uma rede de dynamitistas installados no Sacramento (no Club dos Caçadores), na calçada do Duque, etc. A propria egreja do Sacramento, onde os revolucionarios entrariam usando d'uma chave falsa, serviria tambem a impedir que os janizaros do antigo regimen viessem cá para fóra espingardear o povo. Proximo dos outros quarteis da municipal e das esquadras de policia havia analogas disposições de ataque.

      Os dissidentes tinham um logar marcado em especial: o elevador da Bibliotheca. Aqui reunidos desde o começo da tarde, logo que pelo largo do Pelourinho passasse um automovel conduzindo o dr. Affonso Costa, deviam correr, armados, para a camara municipal, apossar-se d'ella juntamente com aquelle estadista e outros individuos que o acompanhariam e uma vez no edificio, proclamariam um governo provisorio. Essa passagem do automovel conjugava-se com um signal dado no Tejo, que indicaria a execução immediata d'outras manobras revolucionarias. Outro grupo apossar-se-hia dos telegraphos e da rede telephonica. Em summa, mal que fosse dada ordem para o rebentar do movimento, Lisboa vêr-se-hia litteralmente enleiada n'um combate renhido, a menos que os defensores da monarchia resolvessem momentaneamente não resistir aos revoltosos.

      A prisão do dictador obstaria a que elle, sahindo da sua casa de residencia, conseguisse communicar com os elementos militares de que dispunha ou com qualquer dos seus collegas no gabinete. João Franco, para que a sua acção não entorpecesse o que fôra planeado, devia soffrer, acto continuo ao inicio da revolta, uma immobilisação rigorosa. Não é facil asseverar até onde iria essa immobilisação, caso ella se tivesse produzido; mas a verdade é que no espirito de todos havia a noção clara de que o menor passo dado pelo dictador fóra das vistas dos revolucionarios transtornaria, sem duvida, o exito da causa.

      Na noite de 26 de janeiro era enorme a affluencia de conspiradores á casa da rua do Desterro. De repente chega um aviso de que o edificio estava cercado pela policia. Fecham-se todas as portas e Affonso Costa, tomando a direcção da defeza, resolve resistir aos assaltantes, exclamando no auge do enthusiasmo:

      – Vamos a isto!.. Será o inicio da Revolução!

      Dentro de breves instantes verificou-se que o aviso não tinha fundamento. Mas tornava-se necessario proceder com cautela e marcar definitivamente a hora para o rebentar da revolta no dia 28. Escolheu-se as 4 da tarde por ter a vantagem de coincidir com o maior transito das ruas de Lisboa e a menor vigilancia nos quarteis da guarnição.

      Na noite de 27, os conspiradores receberam na casa da rua do Desterro uma carta anonyma, prevenindo-os de que se não abandonassem immediatamente o edificio seriam denunciados á policia. A carta era, evidentemente, d'um visinho medroso… Affonso Costa manda alugar outra casa na rua de S. Julião, n.º 32 e, vestindo a farda de Marinha de Campos, percorre varias ruas da cidade e entra em diversos portaes, sem que a policia dê por tal…

      «Essa noite (a de 27) – revelou-o mais tarde o visconde da Ribeira Brava – foi tremenda de sensações! Alvaro e Ernesto Pope e Arthur Cohen desenvolveram uma actividade inexcedivel. Os automoveis giravam constantemente, percorrendo os postos, levando ordens e dando a ultima demão nos preparativos do movimento. Essa noite, eu e Affonso Costa passamol-a sem dormir, sentados os dois a uma meza, escrevendo em pedaços de papel determinações que eram enviadas a todos os que dirigiam grupos de combate, e ao mesmo tempo dando indicações para o fornecimento de armas, que se encontravam-no deposito principal. Sobre a madrugada estavamos gelados. Entre essas ordens ha uma interessante para a historia da Revolução. É a que enviámos a José d'Alpoim, concebida nos seguintes termos:

      «O sr. José d'Alpoim, com os seus amigos, irá postar-se no elevador da Bibliotheca, para d'ali, na companhia de Affonso Costa e do povo assaltarem a Camara Municipal e ahi proclamarem a Republica. Pelo «comité» revolucionario, Affonso Costa e Ribeira Brava».

      Approximava-se o momento decisivo.

      CAPITULO VI

      A «ratoeira» do elevador da Bibliotheca insuccesso do «complot»

      Todo o dia 28, desde as primeiras horas da manhã, foi passado n'uma anciedade enorme indescriptivel. Os republicanos e os dissidentes, ainda então á solta, sabiam perfeitamente que a policia os não desfitava e que era uma questão de minutos, talvez, a perda da sua liberdade.

      Proximo das 11 horas da manhã, o sr. Alpoim, que estava no centro da dissidencia progressista, recebeu a ordem revolucionaria n'outro logar transcripta, e ás 2 da tarde foi para o elevador da Bibliotheca com os srs. João Pinto dos Santos, Egas Moniz, Cassiano Neves, Batalha de Freitas e outros mais. Encafuaram-se todos n'um cubiculo, tendo á porta uma vedeta que se revesava regularmente. Das 2 ás 4, nada occorreu ali de anormal. Ás 4, os dissidentes, já então acrescidos de Marinha de Campos e Alvaro Pope, esperaram que o chefe da grande orchestra movesse a batuta. N'outros pontos de Lisboa, a scena era quasi identica. Estava tudo a postos. Faltava apenas o signal combinado…

      Ao cahir da tarde, como se espalhasse o boato de que o movimento tinha de soffrer novo adiamento de horas, Marinha de Campos, Alvaro Pope e o visconde de Pedralva foram de automovel percorrer os quarteis, transportando ao mesmo tempo armas e munições. Pouco depois, entrou no elevador o tenente-coronel Amancio de Alpoim e communicou aos conjurados que a revolta gorara e que era conveniente que abandonassem o edificio, pois a policia já lhes andava no encalço.

      Debandaram. Mas d'ahi a uma hora voltaram novamente a reunir-se na casa do tenente Furtado, contigua ao elevador. Isso de nada serviu, porque Alvaro Pope, que ali appareceu já noite fechada, tinha informações identicas ás do tenente coronel Amancio de Alpoim. O movimento fôra mal succedido, as tropas tinham sido postas de prevenção, as guardas dos edificios publicos haviam sido reforçadas e o comité revolucionario ordenara definitivamente a retirada das forças mobilisadas. O dr. Egas Moniz, sabendo que o sr. Affonso Costa e o visconde da Ribeira Brava tinham entrado no elevador, foi ao seu encontro. N'esse mesmo instante, a policia principiava a cercar a casa do tenente Furtado. Era evidente que se preparava para capturar o sr. Alpoim e os seus amigos, como d'ahi a pouco capturou os srs. Affonso Costa, dr. Egas Moniz e visconde da Ribeira