Название | Guerras do Alecrim e da Manjerona |
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Автор произведения | Antônio José da Silva |
Жанр | Зарубежная классика |
Серия | |
Издательство | Зарубежная классика |
Год выпуска | 0 |
isbn |
Semicúpio: Para que me desenganes, se me queres, ou não.
Sevadilha: Pergunta-o ao malmequer, que ele t’o dirá.
Semicúpio: Se eu o tivera, aqui, fizera esta experiência.
Sevadilha: E onde está o que eu te dei?
Semicúpio: Lá o tenho empapelado, que cuido que o ar m’o leva.
Sevadilha: Assim te leve o diabo.
Semicúpio: Levará que é muito capaz disso. Pois em que ficamos? Bem me queres, ou mal me queres?
Sevadilha: Apanha aquele malmequer, que está junto àquela porta, e pergunta-lho, que ele to dirá.
Semicúpio: Pois acaso nas folhas do malmequer, estão escritos os teus amores, ou os teus desdéns?
Sevadilha: Da mesma sorte que a buena dicha na palma da mão.
Semicúpio: Eu vou apanhar o dito malmequer. (vai-se)
Sevadilha: Quem me dera que ficasse em malmequer para o fazer andar à prática!
(Entra Semicúpio com um malmequer)
Semicúpio: Eis aqui o malmequer: ora vamos a isso; que se há flores que são desengano da vida, esta o será do amor. Sevadilha, toma sentido, vê se fica no bem-me-quer.
Sevadilha: Isto é como uma sorte.
Semicúpio: Queira Deus não se converta o malmequer em azar. Tem sentido.
Sevadilha: Amor,se sai a coisa como eu quero, eu te prometo um arco de pipa, e uma venda nos Remolares em que ganhes muito dinheiro.
Canta Semicúpio a seguinte
Oráculo de amor
Propício me responde
Nas ânsias deste ardor
Bem me queres, mal me queres
Bem me queres, disse a flor.
Ai de mim, que me quer mal
Teu ingrato malmequer
Acabou-se o meu cuidado,
Que mais tenho que esperara?
Vou-me agora regalar,
Levar boa vida, comer, e beber.
(Entra Dona Clóris)
Dona Clóris: Oh! Quanto folgo que já estejas bom!
Semicúpio: E tão bom que parece que nunca tive nada.
Dona Clóris: Com que saraste?
Semicúpio: Com o mesmo mal; porque também há males que vêm por bem.
Dona Clóris: Que dizes, que te não entendo? Estás louco?
Semicúpio: Meu amo ainda o está mais do que eu, desde que te viu assim por maior esta manhã; e assim para significar-te a tremendíssima eficácia de seu amor, aqui me manda a teus pés, minto, aos teus átomos, para que com os disfarces do Alecrim possa merecer os teus agrados.
Dona Clóris: Sevadilha, põe-te a espreitar não venha alguém.
Sevadilha: Sim Senhora. Arrelá como ardil do homem! (vai-se)
Dona Clóris: E quem é esse teu ano que tanto me adora?
Semicúpio: É o Senhor Dom Gilvaz, cavalheiro de tão lindas prendas, com verbi gratia Londres e Paris.
Dona Clóris: Que oficio tem?
Semicúpio: Há de ter um de defuntos, quando morrer.
Dona Clóris: E enquanto vivo, em que se ocupa?
Semicúpio: Em morrer por vossa mercê.
Dona Clóris: Fala a propósito.
Semicúpio: Senhora, meu amo não necessita de ofícios para manter os seus estados , porque tem várias propriedades consigo muito boas; além disso tem uma quinta na semana, que fica entre a quarta e a sexta, tão grande que é necessário vinte e quatro horas, para se correr toda.
Dona Clóris: Quanto fará toda de renda?
Semicúpio: Não se pode saber ao certo; sei que tem várias rendas em Flandres, e outras em Peniche, e estas bem grossas; também tem um foro de fidalgo, e um juro de nobreza.
Dona Clóris: Basta que é fidalgo?
Semicúpio: Como as estrelas, que as vê ao meio-dia, e as estas horas não vê outra coisa; e certamente lhe posso dizer que é tão antiga a sua descendência, que diz muita gente, que descende de Adão.
Dona Clóris: Se isso é assim, talvez, que me incline a quere-lo para meu esposo.
Semicúpio: Venha a resposta, senhora, que meu amo está esperando com língua de palmo.
Dona Clóris: Pois ouve o que lhe hás de dizer.
Canta Dona Clóris a seguinte
Dirás ao meu bem,
Que não desconfie,
Que adore, que espere,
Que não desespere,
Que à sua firmeza Constante serei.
Que firme eu também
A tanta fineza
Amante, constante
Extremos farei. (vai-se)
Semicúpio: Vencido está o negocio; mas o capote do velha cá não há de ficar por vida de Semicúpio; que se a ocasião faz o ladrão, hei de sê-lo por não perder a ocasião. (vai-se com o capote).
(Entra Sevadilha)
Sevadilha: Espera, homem, onde levas o capote? E foi-se como um cesto rosto? Ai, mofina desgraçada, que há de ser de mim se meu amo não achar o seu rico capote?
(Entra Dom Lancerote)
Dom Lancerote: Já sarou o homem, Sevadilha?
Sevadilha: Sim, Senhor.
Dom Lancerote: Já se foi?
Sevadilha: Sim, Senhor.
Dom Lancerote: Guardaste o capote?
Sevadilha: (à parte) Ai é ela.
Dom Lancerote: Não ouves? Guardaste o capote?
Sevadilha: Qual capote?
Dom Lancerote: O meu.
Sevadilha: Qual meu?
Dom Lancerote: O meu de Saragoça.
Sevadilha: Ah sim, o capote do homem do Alecrim?
Dom Lancerote: Qual homem?
Sevadilha: O do acidente.
Dom Lancerote: Tu zombas?
Sevadilha: Zombaria fora, o homem levou o capote.
Dom