Название | Comboio-Fantasma |
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Автор произведения | L.M. Somerton |
Жанр | Зарубежные детективы |
Серия | |
Издательство | Зарубежные детективы |
Год выпуска | 0 |
isbn | 9781802500660 |
Stevie encolheu os ombros. «Ele é bom.»
«E eu?» Perguntou Garth.
«Emo vadio e mal comportado gosta de dor, adora servir, quanto mais severo melhor.»
Carrancudo, Garth deitou a língua de fora. Zach tinha acertado em cheio.
«Ele também te topou, Garth», exclamou Stevie. «Agora é a vez do Adam.»
Zach mastigou um grosso pedaço de salsicha, como se esta lhe pudesse proporcionar a inspiração adequada. «Dom excessivamente protetor precisa de sub para cuidar. Gosto por castidade é essencial.»
Adam enfiou uma garfada na boca, mastigando enquanto acenava com a cabeça em concordância. «Etiqueta-me já. Estou pronto.»
«O que diria a tua etiqueta, Zach? Conheces-te tão bem como pensas que nos conheces a nós?» Perguntou Garth. «Uma coisa é descreveres as manias dos teus amigos, outra coisa é admitires as tuas em voz alta.»
«Zach só tem olhos para um homem», disse o Stevie. «Um certo professor alto e moreno do departamento de matemática.»
Garth e Adam murmuraram em acordo.
«É pena que ele não esteja interessado», disse Zach. «A minha etiqueta vai dizer especialista em desejo não correspondido.»
«O Professor Raynott é lindo», admitiu o Stevie. «Mas assustador. Acho que nunca o vi sorrir. Será que é mesmo gay?»
«Tem um autocolante com o arco-íris na janela traseira do Audi», disse Zach. «Eu continuo a viver com esperança.»
«Perseguidor!» Stevie acenou-lhe com a faca.
Zach encolheu os ombros. «O meu gaydar é inexistente. Gostava de saber se estou a ladrar à árvore errada.»
«Pareces mais um cachorrinho demasiado entusiasmado a mijar para o tronco.» Adam inalou o chá. Garth e Stevie desataram a rir.
«Ainda bem que todos acham a minha vida amorosa, ou a falta dela, muito divertida.» Zach riu. «Mesmo que eu não pesque um pato que traga o número do professor gostoso agarrado, o verão promete ser divertido.»
«É verdade», concordou Garth. Não estava a chover, o pequeno-almoço de Mo estava delicioso e ele tinha dois meses para ganhar algum dinheiro e divertir-se com os seus amigos. Se algum deles tivesse sorte na lotaria do amor, iam celebrar juntos. «A vida é boa.»
* * * *
Garth despiu o casaco de cabedal e colocou-o no cubículo destinado aos seus artigos pessoais. O ritual de humilhação de moda vinha com o trabalho. Ele podia usar as suas calças pretas, mas o polo azul era obrigatório. Tinha o logótipo do parque de diversões estampado nas costas e Garth não teria optado por usá-lo se a sua vida dependesse disso. Considerou-se sortudo por estar a trabalhar no comboio-fantasma. Só tinha dois anos e era topo de gama — um lugar muito mais fixe para trabalhar que o helter-skelter ou o carrossel. Zach teria ficado em farrapos a arrastar tapetes de fibra de cairo por todo o lado e Stevie teria permanecido num estado de vertigem constante.
Os efeitos especiais do comboio-fantasma eram aterradores e os passageiros que esperavam o tipo de passeio foleiro “abana-ossos” que provavelmente experienciaram durante a infância recebiam o maior susto da vida. Cada carruagem fazia o percurso sozinha e, dentro do armazém cavernoso que albergava a experiência, a configuração tinha sido concebida para que nenhuma carruagem jamais passasse por outra. Havia até uma segunda trajetória acessível através de uma rampa, um túnel e um troço sobre uma piscina de água turva. Uma câmara automática tirava fotografias de cada carruagem à medida que estas atravessavam a porta de saída. A expressão nos rostos dos clientes no momento em que emergiam para a luz do dia não tinha preço.
A viagem era toda controlada por um computador e uma série de componentes eletrónicos complicados. Tudo o que Garth tinha de fazer era ligá-lo, recitar as instruções de segurança aos ocupantes de cada veículo e depois premir o botão que os remetia para o seu caminho. Os clientes podiam ver as suas fotografias no grande ecrã, mas as compras eram feitas através de uma cabine central, pelo que ele não tinha de se preocupar em levar dinheiro. Eram coisas simples, mas ele tinha de se manter atento a quaisquer problemas com a viagem.
De vez em quando, ficava tudo paralisado até ele reiniciar o computador. Quando isso acontecia, dispunha de um sistema Tannoy para tranquilizar todos os que ficassem presos lá dentro. Não era difícil, o pagamento era bom e, o melhor de tudo, dispunha de muito tempo para dispensar uma olhadela aos ocupantes das carruagens na esperança de encontrar o Sr. Certo. É claro que ele não tinha a menor ideia do que faria se encontrasse o Sr. Alto, Sombrio e Dominante, mas tinha bastante tempo para sonhar acordado com as possibilidades. Concedeu ao seu cérebro uma pausa das complexidades da física molecular e à sua pele uma boa dose de vitamina D.
Uma campainha tocou, assinalando a abertura do parque. O nível de ruído aumentou à medida que as atrações entravam em ação e música pop se misturava num turbilhão de harmonias discordantes. Em breve, o ar ficaria impregnado com o aroma de cachorros quentes, maçãs caramelizadas e donuts fritos, todos disputando o controlo do sentido olfativo dos visitantes. Garth concentrou-se na crescente fila de clientes e começou a trabalhar.
No final do dia, a sua cabeça latejava, as costas doíam e o pescoço estava tão rígido que parecia que uma barra de aço unia o crânio à coluna vertebral. Tudo o que ele queria era ir para casa, ensopar num banho quente durante pelo menos três horas e de seguida dormir. Após alguns dias, habituar-se-ia ao trabalho e ao esforço físico que este exigia ao seu corpo. A memória muscular não durava o ano todo e sentar-se nos anfiteatros ou na biblioteca da universidade não o preparava para ficar de pé o dia todo, dobrando-se sobre as carruagens. No entanto, a sua casa ainda estava à distância de uma viagem de bicicleta.
Stevie ficava sempre com Zach durante as férias pois os seus pais viviam no estrangeiro e, por isso, era costume apanhar boleia com Zach e o pai. Adam era um morador local como Zach e vivia a curta distância do parque, na casa dos pais. Ele dispunha de um quarto fantástico por cima da garagem. A residência para estudantes permitia que Garth alugasse durante todo o ano. Dispunha de um apartamento independente com casa de banho própria e uma pequena kitchenette, o que era muito conveniente. O seu apartamento era um de muitos num quarteirão situado numa área extensiva de alojamento destinado a estudantes. Era muito sossegado durante o verão. Nenhum dos seus vizinhos mais próximos permanecera nas férias, pelo que ele podia ouvir as suas músicas de rock gótico preferidas tão alto quanto queria sem incomodar ninguém. Ficava à distância de um curto passeio da biblioteca da universidade, o que significava que também podia adiantar os trabalhos de curso para o ano seguinte. Era fascinado por Física e estava ansioso por iniciar a sua dissertação.
Rodou os ombros, gemendo com os estalidos. Percorrer a cidade de bicicleta não ia ser nada divertido. Efetuou as últimas verificações e desligou tudo. A música foi silenciada e o néon colorido transformou-se em escuridão. O silêncio foi um alívio. Garth foi até ao seu cubículo buscar o casaco e a carteira, saltando quando sentiu um toque no ombro. Ele ganiu, bateu com a cabeça numa prateleira e caiu de rabo, esparramando-se desajeitadamente.
«Que r...» Esfregou o crânio dorido.
«Desculpa, não te queria assustar.»
Garth ergueu o olhar para observar o seu carrasco. O seu pescoço protestou enquanto inclinava a cabeça para trás, e depois ainda mais para trás. Ele olhou para a mão estendida com desconfiança, mas decidiu que, como já tinha feito figura de autêntico idiota, aceitar assistência não ia acrescentar nada à sua humilhação.
«Posso ajudar?» Garth foi puxado tão depressa que perdeu o equilíbrio e tropeçou. O desconhecido segurou-o, colocando uma mão no fundo das costas. Uma sensação de calor penetrou pela t-shirt fina de Garth.
«Estás bem? Não quero magoar esse belo rabiosque mais do que já está.»