Mestres da Poesia - Mário de Andrade. Mário de Andrade

Читать онлайн.
Название Mestres da Poesia - Mário de Andrade
Автор произведения Mário de Andrade
Жанр Языкознание
Серия Mestres da Poesia
Издательство Языкознание
Год выпуска 0
isbn 9783969443712



Скачать книгу

-line/>

      O Autor

      Biografia

      São Paulo o viu primeiro.

      Foi em 93.

      Nasceu, acompanhado daquela

      estragosa sensibilidade que

      deprime os seres e prejudica

      as existências, medroso e humilde.

      E, para a publicação destes

      poemas, sentiu-se mais medroso e mais humilde, que ao nascer.

      Abril de 1917.

      Mário Raul Morais de Andrade (São Paulo, 9 de outubro de 1893 — São Paulo, 25 de fevereiro de 1945) foi um poeta, escritor, crítico literário, musicólogo, folclorista, ensaísta e fotógrafo brasileiro. Foi um dos pioneiros da poesia moderna brasileira com a publicação de seu livro Pauliceia Desvairada em 1922. Mario exerceu uma grande influência na literatura moderna brasileira e, como ensaísta e estudioso, foi um pioneiro do campo da etnomusicologia. Sua influência transcendeu as fronteiras do Brasil.

      Mário foi a figura central do movimento de vanguarda de São Paulo por vinte anos. Músico treinado e mais conhecido como poeta e romancista, Mario de Andrade esteve pessoalmente envolvido em praticamente todas as disciplinas que estiveram relacionadas com o modernismo em São Paulo, tornando-se o polímata nacional do Brasil. Suas fotografias e seus ensaios, que cobriam uma ampla variedade de assuntos, da história à literatura e à música, foram amplamente divulgados na imprensa da época. Andrade foi a força motriz por trás da Semana de Arte Moderna, evento ocorrido em 1922 que reformulou a literatura e as artes visuais no Brasil, tendo sido um dos integrantes do "Grupo dos Cinco". As ideias por trás da Semana seriam melhor delineadas no prefácio de seu livro de poesia Pauliceia Desvairada e nos próprios poemas.

      Depois de trabalhar como professor de música e colunista de jornal ele publicou seu maior romance, Macunaíma, em 1928. Mario de Andrade continuou a publicar obras sobre música popular brasileira, poesia e outros temas de forma desigual, sendo interrompido várias vezes devido a seu relacionamento instável com o governo brasileiro. No fim de sua vida, tornou-se o diretor-fundador do Departamento Municipal de Cultura de São Paulo formalizando o papel que ele havia desempenhado durante muito tempo como catalisador da modernidade artística na cidade e no país.

      Andrade morreu em sua residência em São Paulo devido a um enfarte do miocárdio, em 25 de fevereiro de 1945, quando tinha 51 anos. Dadas as suas divergências com a ditadura, não houve qualquer reação oficial significativa antes de sua morte. Dez anos mais tarde, porém, quando foram publicados em 1955, Poesias completas, quando já havia falecido Vargas, começou a consagração de Andrade como um dos principais valores culturais no Brasil. Em 1960 foi dado o seu nome à Biblioteca Municipal de São Paulo.

      Há uma gota de sangue em cada poema

      Explicação

      O autor crê necessária esta pequena explicação. Estes poemas foram compostos todos em abril; e desde logo o autor quis dar-lhes a vitalidade de livro – antes de ter o desvairo dos idólatras atingido o nosso Brasil. Hoje não há mais o ontem em que fomos espectadores. Hoje também os versos seriam muito outros e mostrariam um coração que sangra e estua. O autor nunca foi aliado. Chorava pela França que o educara e pela Bélgica que se impusera à admiração do universo. E permitia a cada um sua opinião… Agora, porém, ele se envergonha pelos brasileiros que, tendo sido germanófilos um dia, mesmo após o insulto, continuaram de o ser. Nem todas as nuvens de todos os tempos, reunidas em nosso céu, propagariam uma treva igual à que lhes solapa a inteligência e o infeliz amor da pátria.

      Biografia

      São Paulo o viu primeiro.

      Foi em 93.

      Nasceu, acompanhado daquela

      estragosa sensibilidade que

      deprime os seres e prejudica

      as existências, medroso e humilde.

      E, para a publicação destes

      poemas, sentiu-se mais medroso e mais humilde, que ao nascer.

      Abril de 1917.

      Prefácio

      Perdão. – Também, no mato, se depara

      guarantã que tombou, no último esmaio,

      porque, vencido à chuva, o estraçalhara

      – Pollice verso! – o gládio irial do raio…

      Tombou entre os cipós. E, quando maio

      sobre o exício medonho se escancara,

      vê que o recobre o riso novo e gaio

      das trepadeiras e da manhã clara.

      – Por sobre o torso lívido e canhestro

      da Europa em ruína vem também agora

      brilhar, de manso, o maio em sol dum estro:

      deixai, floresçam, nos seus tons diversos,

      as rosas matutinas desta flora,

      a primavera destes simples versos!

      Exaltação da paz

      Ó paz, divina geratriz do riso,

      chegai! Ó doce paz, ó meiga paz,

      sócia eterna de todos os progressos,

      estendei vosso manto puro e liso

      por sobre a terra, que se esfaz!

      Ó suave paz, grandiosa e linda,

      chegai! Ponde, por sobre os trágicos sucessos,

      dos infelizes que se degladiam,

      vossa varinha de condão!

      Tudo se apague! este ódio, esta cólera infinda!

      Fujam os ventos maus, que ora esfuziam;

      que se vos ouça a voz, não o canhão!

      Ó suave paz, ó meiga paz!…

      O sol, nas arraiadas calmas,

      brilhara sobre montes, sobre vales,

      sobre inconsciências de campônios,

      sobre paisagens de Corot;

      havia beijos mornos de favônios,

      e aos altos montes e nos fundos vales

      os galhos eram compassivas almas,

      dando sombras no prado e frescura nas fontes…

      – Hoje, por vales e por montes,

      tudo mudou.

      Tudo mudou!… Atra estralada de bombardas

      em sanha, um clangorar de márcios trons reboando,

      tempestades terrestres estrondeando,

      tiritir, sibilar, zinir miúdo de balas

      caindo sobre absconsas valas,

      coriscos, raios levantando-se de covas,

      batalhões infernais em soturnas atoardas,

      clarins gritando, baionetas cintilando,

      bramidos, golpes, ais, suspiros, estertores…

      Que é dos outonos de úmidos calores?

      que é das colheitas novas?…

      Onde as foices brilhando ao sol?

      onde as tardes de rouxinol?

      onde as cantigas? onde as camponesas?

      onde os bois nas charruas?

      onde as aldeias de sonoras ruas?

      onde os caminhos com arvoredos e framboesas?

      Tudo mudou!

      gira na Terra

      o tripúdio satânico