O Homem À Beira-Mar. Jack Benton

Читать онлайн.
Название O Homem À Beira-Mar
Автор произведения Jack Benton
Жанр Зарубежные детективы
Серия
Издательство Зарубежные детективы
Год выпуска 0
isbn 9788835417194



Скачать книгу

de cereais na mão - temperada com uma pitada de uísque - ele ligou para um velho amigo especializado em línguas estrangeiras e tradução.

      Enquanto esperava por uma resposta, ele voltou para a cama e colocou seu velho laptop sobre os joelhos. A internet, com um pouco de pesquisa, começou a revelar respostas.

      A Enseada Cramer não esteve listada entre os melhores pontos turísticos da costa de Lancashire por mais de trinta anos. De acordo com um site de legislação local, o banho foi proibido depois do verão de 1952, quando as poderosas correntes de retorno ceifaram três vidas em poucas semanas. Com qualquer tipo de atividade aquática oficialmente proibida, a sentença de morte soou para os dias de ponto turístico de verão da Enseada Cramer, com moradores e turistas abandonando a pitoresca enseada em favor das areias mais sem graça, porém mais seguras, de Carnwell e Morecombe. No entanto, algumas almas corajosas tinham claramente enfrentado isso, já que havia outras quatro mortes registradas desde o início dos anos 80, e embora as circunstâncias em torno de cada uma fossem misteriosas, todas foram oficialmente atribuídas a acidentes de afogamento.

      À medida que o rastro da tragédia se alongava, Slim relutou em aprofundar sua busca. Seu único turno ativo durante a primeira Guerra do Golfo em 1991 havia destruído muito de sua curiosidade. Havia um nível para o qual o elevador devia ficar permanentemente desativado, e ele já se sentia muito além dele, mas agora estava em um tipo diferente de folha de pagamento e o aluguel não se pagaria sozinho.

      Ele verificou datas e idades. Ted Douglas tinha cinquenta e seis anos, então em 1984 ele teria vinte e três.

      E lá ela estava.

      25 de outubro, 1984. Joanna Bramwell, de 21 anos, supostamente se afogou na Enseada Cramer.

      Estaria Ted lamentando um amor perdido? De acordo com os detalhes que Slim pedira a Emma Douglas, eles se conheceram e se casaram em 1989. Nessa época, Joanna Bramwell já estava morta há cinco anos.

      Slim estava feliz por não ter havido traição. Era comum demais, e anticlimático de muitas formas.

      A Internet fornecia apenas um nome e causa da morte, então Slim ligou seu velho Honda Jazz em uma manhã fria e dirigiu até a biblioteca em Carnwell para vasculhar arquivos de jornais microfichados.

      As três vítimas depois de Joanna eram uma adolescente, uma criança e uma senhora idosa. Quando Slim chegou a uma página que deveria ter publicado um artigo sobre a morte de Joanna, ele encontrou a página manchada como se tivesse sido danificada pela água, as palavras misturadas umas com as outras, ilegíveis.

      O bibliotecário de plantão afirmou que não havia outra cópia, apesar dos protestos de Slim. Seu pedido de informações sobre a causa do dano foi respondido com um encolher de ombros.

      "Você está procurando um artigo sobre uma garota morta?" perguntou o bibliotecário, um homem na casa dos trinta, que tinha a aparência de um aspirante a romancista, todo trabalhado no suéter com gola enrolada, lenço ornamental e óculos de armação metálica. "Talvez alguém não queira que você leia."

      "Não, talvez não," disse Slim.

      O jovem bibliotecário deu uma piscada, como se fosse algum tipo de jogo. "Ou talvez a pessoa que você está procurando desenterrar prefira não ser incomodada."

      Slim forçou um sorriso e o que considerou ser a risada esperada, mas ao sair da biblioteca, tudo o que sentia era frustração. Joanna Bramwell, ao que parecia, realmente desejava permanecer imperturbada.

      6

      O exército, apesar de toda sua rigidez e regras, ensinou a Slim a desenvoltura, e o fez mestre de uma panóplia de disfarces que ele poderia assumir à vontade. Armado com uma prancheta, um caderno em branco e uma caneta emprestada sem prazo de devolução do correio local, ele bebeu durante algumas horas fingindo ser um pesquisador de documentário de história local, batendo de porta em porta, fazendo perguntas apenas para aqueles com idade suficiente para poder saber, desviando o assunto para distrair aqueles muito jovens para saberem.

      Nove ruas e nenhuma pista substancial depois, ele voltou, bêbado e exausto, para uma chamada perdida de Kay Skelton no telefone fixo de seu apartamento, seu amigo tradutor do exército, que agora trabalhava como linguista forense.

      Ele ligou de volta.

      "É latim," disse Kay. "Mas ainda mais arcaico do que o normal. O tipo de latim que nem mesmo as pessoas que falam latim geralmente conhecem."

      Slim sentiu que Kay estava simplificando um conceito complicado que ele poderia não entender, mas continuou a explicar que as palavras eram um chamado para os mortos, um lamento para um amor perdido. Ted estava implorando por uma lembrança, uma ressurreição, um retorno.

      Kay tinha procurado a transcrição on-line e descobriu se tratar de uma citação direta, tirada de uma publicação de 1935 intitulada Pensamentos abrangidos pelos mortos.

      "Provavelmente seu alvo achou o livro em um sebo," afirmou Kay. "Está fora de circulação há 50 anos. Que tipo de homem quer algo assim?"

      Slim não tinha resposta, porque, francamente, ele não sabia.

      7

      Outra semana fingindo que pesquisava trouxe Slim a outra pista. Com a menção do nome de Joanna, um sorriso veio ao rosto de uma velha senhora que se apresentara como Diane Collins, residente local. Ela acenou com o tipo de entusiasmo de alguém que não recebia um convidado há muito tempo, então convidou Slim para sentar-se em uma sala de estar clara com janelas com vista para fora sobre um gramado artesanal que se inclinava até um lago limpo e oval. A única coisa destoante era uma amora-silvestre subindo a cerca de madeira na parte traseira do jardim. Slim, cujo conhecimento de jardinagem se limitava a ocasionalmente chutar para o lado as ervas no degrau da frente de seu prédio, se perguntou se poderia ser, na verdade, um ramo de rosas sem flores.

      "Eu era a professora de classe de Joanna," afirmou a senhora, com as mãos cercando uma xícara de chá fraco, que ela tinha o hábito de girar em seus dedos como se estivesse tentando afastar a artrite. "A morte dela chocou a todos na comunidade. Foi tão inesperado, e ela era tão amável. Tão brilhante, tão bonita. Quero dizer, havia alguns verdadeiros terrores naquela classe, mas Joanna, ela sempre foi tão bem comportada."

      Slim ouviu pacientemente quando Diane começou um longo monólogo sobre os méritos da garota há muito falecida. Quando ele teve certeza que ela não estava olhando, ele tirou um cantil de bolso e derramou uma gota de uísque em seu chá.

      "O que aconteceu no dia em que ela se afogou?" Slim perguntou, quando Diane começou a divagar em histórias de seus dias de ensino. "Ela não sabia sobre as correntes na Enseada Cramer? Quero dizer, Joanna não foi a primeira a morrer lá em baixo. Nem a última."

      "Ninguém sabe o que realmente aconteceu, mas o corpo dela foi encontrado na linha da maré alta no início da manhã por alguém passeando com um cachorro. Nessa hora, é claro, já era tarde demais."

      "Para salvá-la? Bem-"

      "Para o casamento dela."

      Slim sentou-se. "Repita?"

      "Ela desapareceu na noite anterior ao seu grande dia. Eu estava lá, entre os convidados enquanto esperávamos por ela. Claro, todo mundo assumiu que ela tinha abandonado ele."

      "Ted?"

      A velha franziu a testa. "Quem?"

      "O noivo dela? Seu nome era-"

      Ela balançou a cabeça, acenando para Slim com o movimento de uma mão manchada pela idade.

      "Eu não me lembro agora. Mas lembro-me do rosto dele. A foto estava no jornal. Eles nunca