Название | Um Reino de Sombras |
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Автор произведения | Морган Райс |
Жанр | Героическая фантастика |
Серия | Reis e Feiticeiros |
Издательство | Героическая фантастика |
Год выпуска | 0 |
isbn | 9781632915245 |
Outros tantos se aproximaram e Kyle rapidamente agarrou no seu bastão e atirou-os a todos ao chão, lutando como um animal encurralado e formando um círculo à sua volta. Ele ficou ali, a respirar pesadamente, com o sangue a escorrer-lhe dos lábios, enquanto os seus opositores formavam um denso círculo em torno dele, todos a aproximarem-se, com sangue nos olhos.
As dores no estômago e no ombro eram insuportáveis. Kyle tentava ignorá-las, tentava focar-se enquanto ali estava. Ele sabia que enfrentava uma morte iminente e consolava-se apenas por ter resgatado Kyra. Isso tinha feito com que tudo valesse a pena e ele estava disposto a pagar o preço.
Ele olhou para o horizonte e consolou-se por ela ter ficado longe daquilo tudo, por se ter ido embora nas costas de Andor. Ele questionava-se se ela estaria segura, rezando para que sim.
Kyle tinha lutado de forma brilhante, durante horas, um homem contra ambos os exércitos, matando milhares deles. No entanto, ele sabia que agora estava demasiado fraco para continuar. Eles eram demasiados e nunca pareciam terminar. Ele viu-se no meio de uma guerra, com os trolls a inundar a terra vindos do norte, enquanto os Pandesianos apareciam do Sul. Ele já não conseguia lutar contra ambos.
Kyle sentiu uma dor súbita nas suas costelas quando um troll investiu contra ele por trás e espetou-lhe nas costas o eixo do seu machado. Kyle virou-se com o seu bastão, decepando o troll na garganta, mandando-o ao chão – mas simultaneamente dois soldados Pandesianos aproximaram-se a correr e esmagaram-no com o seu escudo. Com uma dor de cabeça avassaladora, Kyle caiu para o chão e, desta vez, ele sabia, de vez. Ele estava demasiado fraco para se levantar novamente.
Kyle fechou os olhos e na sua mente passaram imagens da sua vida. Ele viu todos os Sentinelas, pessoas com que ele tinha servido durante séculos, viu todas as pessoas que ele tinha conhecido e amado. Acima de tudo, ele viu o rosto de Kyra. A única coisa que lamentava era que não a veria novamente antes de morrer.
Kyle olhou para cima quando três trolls hediondos se aproximaram, erguendo as suas alabardas. Ele sabia que tinha chegado o momento.
Ao baixarem-nas tudo ficou mais claro. Ele foi capaz de ouvir o som do vento; sentir realmente o cheiro do ar fresco e puro. Pela primeira vez em séculos, ele sentia-se verdadeiramente vivo. Ele questionou-se porque é que nunca tinha sido capaz de realmente apreciar a vida até estar quase morto.
De repente, enquanto Kyle fechava os olhos e se preparava para o abraço da morte, um rugido perfurou o céu, acordando-o do devaneio. Ele pestanejou e olhou para cima, vendo algo a surgir através das nuvens. Ao início pensou serem anjos que vinham para levar o seu corpo.
Mas depois ele viu que os trolls que estavam por cima dele estavam eles próprios congelados e confusos, todos à procura no céu – e Kyle sabia que era real. Era outra coisa.
E então, ao vislumbrar o que era o seu coração parou.
Dragões.
Um bando de dragões circulava, descendo a pique em fúria, expelindo fogo. Eles desciam rapidamente, com as garras estendidas, soltando a sua chama e, sem aviso, mataram centenas de soldados e trolls de uma vez. Uma onda de fogo desceu, espalhando-se e, em poucos segundos, os trolls que estavam sobre Kyle ficaram todos queimados. Kyle, ao ver as chamas a aproximarem-se, agarrou num enorme escudo de cobre ao lado dele e abrigou-se atrás dele, enrolando-se como uma bola. O calor era intenso quando as chamas lá tocavam, quase a queimar-lhe as mãos, mas ele manteve-se firme. Os trolls e os soldados mortos caíram em cima dele, com a sua armadura a protegê-lo ao vir mais uma onda de chamas, esta mais poderosa. Ironicamente, aqueles trolls e Pandesianos estavam agora a salvá-lo da morte.
Ele manteve-se firme, suando, mal capaz de suportar o calor enquanto os dragões mergulhavam a pique uma e outra vez. Incapaz de aguentar por mais tempo, ele desmaiou, rezando para que não fosse queimado vivo.
CAPÍTULO SETE
Vesúvio estava à beira do precipício, ao lado da Torre de Kos, olhando para as ondas do Mar do Arrependimento a rebentar, com o vapor a continuar a subir do local a partir do qual a Espada de Fogo se tinha afundado – e ele sorriu ironicamente. Ele tinha conseguido. A Espada de Fogo já não existia. Ele tinha roubado a Torre de Kos, tinha roubado Escalon do seu mais precioso artefacto. Ele tinha, de uma vez por todas, baixado as Chamas.
Vesúvio irradiava alegria, vertiginoso com a excitação. A sua mão da palma ainda latejava no sítio onde ele tinha agarrado a ardente Espada de Chamas e, ao olhar para baixo, ele viu nele a marca da insígnia. Ele passou o dedo ao longo das suas cicatrizes recentes, sabendo que iriam ficar lá para sempre, um sinal do seu sucesso. A dor era ofuscante, mas ele forçava-se a não pensar nisso, forçava-se a não se deixar incomodar por isso. Na verdade, ele tinha aprendido sozinho a desfrutar da dor.
Depois de todos aqueles séculos, agora, finalmente, o seu povo teria o que lhes era devido. Já não seriam relegados para Marda, para os confins setentrionais do império, para a terra infértil. Agora eles iriam vingar-se por terem sido colocados em quarentena por detrás de uma parede de chamas, inundariam Escalon, rasgá-lo-iam em pedaços.
Ele ficou muito entusiasmado, inebriado com aquele pensamento. Ele não conseguia esperar para voltar, atravessar o Dedo do Diabo, voltar para o continente e encontrar o seu povo no meio de Escalon. Toda a nação de trolls iria convergir em Andros e, juntos, um pedaço de cada vez, iam destruir Escalon para sempre. Tornar-se-ia a nova pátria dos trolls.
No entanto, ali a olhar para as ondas no local onde a espada se tinha afundado, algo atormentava Vesúvio. Ele olhava para o horizonte, examinando as águas negras da Baía da Morte e havia algo que persistia, algo que tornava a sua satisfação incompleta. Ao observar o horizonte, ele avistou ao longe um pequeno navio solitário, com velas brancas, que navegava ao longo da Baía da Morte. Navegava para oeste, para longe do Dedo do Diabo. Ao vê-lo ir, ele percebeu que algo estava errado.
Vesúvio virou-se para trás e olhou para a Torre ao lado dele. Estava vazia, com as portas abertas. A Espada tinha estado à espera dele. Aqueles que a guardavam tinham-na abandonado. Tinha sido tudo demasiado fácil.
Porquê?
Vesúvio sabia que o assassino Merk andava a perseguir a Espada; ele tinha-o seguido todo o caminho até ao outro lado do Dedo do Diabo. Então porque é que ele a iria abandonar? Porque é que ele estava a navegar para longe dali, para o outro lado da Baía da Morte? Quem era aquela mulher que navegava com ele? Será que ela havia estado a guardar aquela torre? Que segredos é que ela estava a esconder?
E para onde é que eles estavam a ir?
Vesúvio olhava para o vapor que subia do mar e, em seguida, olhava de novo para o horizonte. As suas veias latejavam. Ele não conseguia evitar sentir que, de alguma forma, tinha sido enganado. Que uma vitória completa lhe tinha sido arrancada.
Quanto mais Vesúvio pensava naquilo, mais percebia que algo estava errado. Era tudo demasiado conveniente. Ele observava o mar violento lá em baixo, as ondas a rebentar nas rochas, o vapor a subir e percebeu que nunca iria saber a verdade. Ele nunca iria saber se a Espada de Chamas se tinha realmente afundado até ao fundo. Se havia alguma coisa que lhe estivesse a escapar. Se sequer tinha sido a espada certa. Se as chamas se iam manter baixas, também.
Vesúvio, indignado, tomou uma decisão: ele tinha de persegui-los. Ele nunca iria saber a verdade até o fazer. Haveria algures uma outra torre secreta? Outra espada?
Mesmo se não houvesse, mesmo se ele tivesse conseguido tudo o que precisava, Vesúvio era famoso por não deixar as suas vítimas vivas. Sempre. Ele perseguia sempre cada último homem até à sua morte e, ficar ali de pé, a observar aqueles dois a escaparem-se do seu alcance, não lhe assentava. Ele sabia que não podia simplesmente deixá-los ir.
Vesúvio olhou para as dezenas de navios ainda amarrados às margens, abandonados, balançando descontroladamente nas ondas, como se estivessem a esperar por ele. E tomou uma decisão imediata.
"Para os navios!", ordenou ao seu exército de trolls.
Como um, eles agitaram-se para cumprir a sua ordem, correndo até a costa rochosa, embarcando nos navios. Vesúvio