Os Lusíadas. Luis de Camoes

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Название Os Lusíadas
Автор произведения Luis de Camoes
Жанр Зарубежные стихи
Серия
Издательство Зарубежные стихи
Год выпуска 0
isbn http://www.gutenberg.org/ebooks/27236



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usíadas

      Eu el Rey faço ſaber aos que eſte Aluara virem que eu ey por bem & me praz dar licença a Luis de Camoẽs pera que poſſa fazer imprimir neſta cidade de Lisboa, hũa obra em Octaua rima chamada Os Luſiadas, que contem dez cantos perfeitos, na qual por ordem poetica em verſos ſe declarão os principaes feitos dos Portugueſes nas partes da India depois que ſe deſcobrio a nauegação pera ellas por mãdado del Rey dom Manoel meu viſauo que ſancta gloria aja, & iſto com priuilegio pera que em tempo de dez anos que ſe começarão do dia que ſe a dita obra acabar de empremir em diãte, ſe não poſſa imprimir nẽ vender em meus reinos & ſenhorios nem trazer a elles de fora, nem leuar aas ditas partes da India pera ſe vender ſem licẽça do dito Luis de Camoẽs ou da peſſoa que pera iſſo ſeu poder tiuer, ſob pena de quẽ o contrario fizer pagar cinquoenta cruzados & perder os volmes que imprimir, ou vender, a metade pera o dito Luis de Camoẽs, & a outra metade pera quem os acuſar. E antes de ſe a dita obra vender lhe ſera poſto o preço na meſa do deſpacho dos meus Deſembargadores do paço, o qual ſe declarará & porá impreſſo na primeira folha da dita obra pera ſer a todos notorio, & antes de ſe imprimir ſera viſta & examinada na meſa do conſelho geral do ſanto officio da Inquiſição pera cõ ſua licença ſe auer de imprimir, & ſe o dito Luis de Camões tiuer acrecentados mais algũs Cantos, tambem ſe imprimirão auendo pera iſſo licença do ſancto officio, como acima he dito. E eſte meu Aluara ſe imprimirà outroſi no principio da dita obra, o qual ey por bem que valha & tenha força & vigor, como ſe foſſe carta feita em meu nome por mim aſſinada & paſſada por minha Chancellaria ſem embargo da Ordenação do ſegundo liuro, tit. xx. que diz que as couſas cujo effeito ouuer de durar mais que hum ano paſſem per cartas, & paſſando por aluaras não valhão. Gaſpar de Seixas o fiz em Lisboa, a .xxiiij: de Setembro, de M.D.LXXI. Iorge da Coſta o fiz eſcreuer.

      OS LVSIADAS DE LVIS DE CAMÕES

      Canto primeiro

      As armas, & os barões aſsinalados,

      Que da Occidental praya Luſitana,

      Por mares nunca de antes nauegados,

      Paſſaram, ainda alem da Taprobana,

      Em perigos, & guerras esforçados,

      Mais do que prometia a força humana.

      E entre gente remota edificarão

      Nouo Reino, que tanto ſublimarão.

      E tambem as memorias glorioſas

      Daquelles Reis, que forão dilatando

      A Fee, o Imperio, & as terras vicioſas

      De Affrica, & de Aſia, andarão deuaſtando,

      E aquelles que por obras valeroſas

      Se vão da ley da Morte libertando.

      Cantando eſpalharey por toda parte,

      Se a tanto me ajudar o engenho & arte.

      Ceſſem do ſabio Grego, & do Troyano,

      As nauegações grandes que fizerão:

      Calleſe de Alexandro, & de Trajano,

      A fama das victorias que tiuerão,

      Que eu canto o peyto illuſtre Luſitano,

      A quem Neptuno, & Marte obedeçerão:

      Ceſſe tudo o que a Muſa antigua canta,

      Que outro valor mais alto ſe aleuanta.

      E vos Tagides minhas, pois criado

      Tendes em my hum nouo engenho ardente.

      Se ſempre em verſo humilde, celebrado

      Foy de my voſſo rio alegremente,

      Daime agora hum ſom alto, & ſublimado,

      Hum estillo grandiloco, & corrente,

      Porque de voſſas agoas Phebo ordene,

      Que não tenhão enueja aas de Hypocrene.

      Daime hũa furia grande & ſonoroſa,

      E não de agreſte a vena, ou frauta ruda:

      Mas de tuba canora & belicoſa,

      Que o peito acende, & a cor ao geſto muda:

      Daime igoal canto aos feitos da famoſa

      Gente voſſa, que a Marte tanto ajuda:

      Que ſe eſpalhe & ſe conte no vniuerſo,

      Se tam ſublime preço cabe em verſo.

      E vos ò bem naſcida ſegurança

      Da Luſitana antigua liberdade,

      E não menos certiſsima eſperança,

      De aumento da pequena Chriſtandade:

      Vos o nouo temor da Maura lança,

      Marauilha fatal da noſſa idade:

      Dada ao mundo por Deos q̃ todo o mande,

      Pera do mundo a Deos dar parte grande.

      Vos tenrro, & nouo ramo florecente,

      De hũa aruore de Christo mais amada

      Que nenhũa naſcida no Occidente,

      Ceſarea, ou Christianiſsima chamada:

      Vedeo no voſſo eſcudo, que preſente

      Vos amostra a victoria ja paſſada.

      Na qual vos deu por armas, & deixou

      As que elle pera ſi na Cruz tomou.

      Vos poderoſo Rei, cujo alto Imperio,

      O Sol logo em naſcendo ve primeiro:

      Veo tambem no meio do Hemiſpherio,

      E quando dece o deixa derradeiro.

      Vos que eſperamos jugo & vituperio,

      Do torpe Ismaelita caualleiro:

      Do Turco Oriental, & do Gentio,

      Que inda bebe o licor do ſancto Rio.

      Inclinay por hum pouco a magestade,

      Que neſſe tenrro gesto vos contemplo,

      Que ja ſe mostra, qual na inteira idade,

      Quando ſobindo yreis ao eterno templo,

      Os olhos a real benignidade

      Ponde no chão: vereis hum nouo exemplo,

      De amor, dos patrios feitos valeroſos,

      Em verſos deuulgado numeroſos.

      Vereis amor da patria, não mouido

      De premio vil: mas alto, & quaſi eterno

      Que nam he premio vil, ſer conhecido

      Por hum pregão do ninho meu paterno.

      Ouui vereis o nome engrandecido

      Daquelles de quem ſois ſenhor ſuperno.

      E julgareis qual he mais excelente,

      Se ſer do mundo Rei, ſe de tal gente:

      Ouui, que não vereis com vãs façanhas

      Fantaſticas, fingidas, mentiroſas,

      Louuar os voſſos, como nas eſtranhas

      Muſas, de engrandecerſe deſejoſas,

      As verdadeiras voſſas ſam tamanhas,

      Que excedem as ſonhadas fabuloſas:

      Que excedem Rodamonte, & o vão Rugeiro,

      E Orlando, inda quefora verdadeiro.

      Por eſtes vos darey hum Nuno fero,

      Que fez ao Rei, & ao Reino tal ſeruiço,

      Hum Egas, & hũ dom Fuas, q̃ de Homero

      A Citara parelles ſo cobiço:

      Pois